“007 – Operação Skyfall” marca os 50 anos de Bond no cinema

“007 – Operação Skyfall” marca os 50 anos de Bond no cinema

Quando foi lançado, dez anos atrás, o vigésimo 007, ainda com Peirce Brosnan, a ideia dos produtores foi rechear o filme com diversas referências à própria série. Agora, quando a franquia comemora 50 anos, o lançamento de “007 – Operação Skyfall”, o 23.° Bond oficial, aparece no mesmo espírito, revisitando a história, tanto tematicamente quanto “espiritualmente”. Mas este é um filme da era de Daniel Craig, mais séria e mais adulta, o que quer dizer que as homenagens têm um fundo mais simbólico e com consequências mais profundas que simplesmente repetir a saída do mar de Ursula Andress em “007 – Contra o Satânico Dr. No”.

O mote do filme começa com uma lista com nomes e disfarces envolvendo todos os operativos de diferentes Serviços Secretos do mundo que estariam infiltrados em grupos terroristas, comprometendo uma grande operação mundial. Isso faz com que o governo britânico comece a questionar não apenas a liderança de M, papel, novamente, de Judi Dench, como todo o programa de 00s. Claro que quem entra em ação é James Bond, para impedir que os nomes da lista sejam divulgados.

O parágrafo anterior é um resumo injusto do enredo. São tantas surpresas e reviravoltas (ainda que algumas bem previsíveis e outras um tanto inconsistentes), e que estão intimamente ligadas à narrativa, que fica o receio de estragar algumas delas. Mas o que é importante nisso tudo é que neste filme, temos uma oportunidade de conhecer um pouco mais de Bond, inclusive de seu passado, e de aprofundar melhor sua relação com M, além de vermos ele encarar a si mesmo, de certo modo, nos ótimos diálogos com o vilão Silva, interpretado por Javier Barden.

Na dinâmica com o vilão é que ficam mais claras as aproximações desse Bond com “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, que foram comentadas pelo próprio Sam Mendes, o diretor. O vilão sem objetivo claro, que não o caos, e a óbvia oposição entre ele e Bond (assim como Coringa e Batman são dois lados da mesma moeda no filme de Christopher Nolan). E, mais importante, o plano excessivamente mirabolante de Silva, que conta mais com a sorte do que com a precisão, ainda que pareça bem impressionante quando não paramos para pensar direito no que está acontecendo.

Mas toda essa humanidade é fruto da direção de Mendes, que encara seu primeiro blockbuster. É clara sua opção de investigar o universo particular de Bond e sua relevância no mundo contemporâneo. Mas a boa mão para dramas de Mendes era um mistério em relação à 007, que precisa balancear a carga dramática com o rítmo frenético de um thriller de espionagem. Mais conhecido por “Beleza Americana” e “Foi Apenas um Sonho”, ele já até tinha filmado seus tiroteios em “Estrada Para Perdição”, mas nada tão impressionante quanto as grandes sequências de “Skyfall”. Um grande diretor é um grande diretor, não importando o gênero, afinal.

O Bond de Craig aparece um pouco mais velho, com algumas cicatrizes de guerra (outra lembrança do Batman, dessa vez do último. Mas como a produções foram simultâneas, é mais prudente creditar como coincidência), e, pasmem, tendo dificuldades para atirar. É como se os 50 anos, do personagem, não do ator, estivessem pesando. Mas, chega um determinado momento em que o ombro não incomoda mais e ele é capaz de correr, lutar e atirar sem o menor problema.

É como se ele estivesse mostrando que ainda tem muito gás para dar, que ainda veremos muitos outros filmes com o personagem, que, como sempre aconteceu, voltará mostrando como ele segue representativo do tempo em que é lançado. Ao mesmo tempo, a demolição de eficiência de Bond opera em um nível narrativo. Tem a ver com a desconfiança de que Silva teria acesso aos arquivos do MI6 desde o começo. Daí a importância de forjar um teste físico e psicológico em que Bond tenha fracassado.

As homenagens, porém, não se limitam ao plano existencial. Temos a volta triunfal do Aston Martin, com banco ejetável e metralhadoras na frente. Além do retorno de dois personagens-chave para a franquia, que andavam desaparecidos: Q, interpretado por Ben Wishaw, e Moneypenny, a secretária de M, cuja atriz é melhor não revelar, pois é, também, uma surpresa do longa. Wishaw, porém, rouba suas cenas, dando uma nova dimensão ao personagem, trazendo humor de um lugar ainda pouco explorado (e olha que Q já foi interpretado por um Monty Pyton no passado).

No final das contas, “Skyfall” propõe e responde uma pergunta: precisamos de mais um James Bond? E a resposta é sim, desde que sejam feitos mais filmes tão bons quanto esse.

Publicado originalmente em 29 de outubro de 2012 no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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