“Projeto Dinossauro” causa mais náusea que suspense

“Projeto Dinossauro” causa mais náusea que suspense

É fácil imaginar uma reunião de produtores, quando resolveram fazer “Projeto Dinossauro”. Quase certeza que eles, depois de muito pensar e debater, chegaram à conclusão que deveriam fazer um filme com o modelo de “filmagens encontradas”, como “A Bruxa de Blair”. E foram descartando os motes: fora fantasmas (“Atividade Paranormal”); fora monstros gigantes (“Cloverfield – Monstro”); fora a Lua (“Apollo 18”); fora super-heróis (“Poder Sem Limites”); fora comédia adolescente (“Projeto X”). “Já sei!”, deve ter gritado um distraído estagiário: “que tal dinossauros… as pessoas adoram dinossauros!”. E assim surgiu “Projeto Dinossauro”.

O filme começa com relatos de que animais desconhecidos teriam sido avistados na selva africana. Em busca da verdade por trás dos mitos, parte então uma expedição de criptozoologistas (especialistas em criaturas míticas), acompanhada de uma equipe de filmagem. Uma vez no coração da selva africana, eles vão descobrir que existe bem mais coisas por trás dos mitos.

Não bastasse o já desgastado formato de “filmagens encontradas”, o longa ainda tem o veio narrativo central focado na relação entre pai e filho. Marchant, líder da expedição e famoso criptozoologista, acaba tendo que lidar com o filho adolescente Luke. As falas de Luke enquanto extravasa sua frustração com a falta da presença do pai em sua vida (enquanto toda a equipe está assustada, tentando lutar pela sobrevivência no meio da selva que já seria assustadora o suficiente sem os dinossauros), soam quase tão patéticas quando os dinossauros em si. E olha que isso é complicado.

É complicado pois já se vão quase 20 anos desde que vimos “Jurassic Park” pela primeira vez, e os dinossauros de Steven Spielberg ainda aparecem melhores em cena do que os de “Projeto Dinossauro”. Claro que daria para justificar isso, alegando o baixo orçamento, mas a verdade é que só paramos para prestar atenção aos dinossauros porque o roteiro está chato, coisa que não acontece, por exemplo, em “Ataque ao Prédio” (que tem seus efeitos toscos, mas é tão bacana que resolvemos ignorar contentes).

A possibilidade mais óbvia para isso seria usar o próprio formato de filme caseiro para piorar a qualidade da imagem, mostrando os bichos mais de relance. Isso, inclusive, ajudaria a criar a atmosfera de suspense. Mas o filme, ao contrário, nos lembra o tempo todo que estão filmando em alta definição, especialmente pelas falas dos personagens, perdendo essa oportunidade.

As imagens, aliás, só nos lembram que tem essa pegada caseira por conta da movimentação incessante das câmeras, o que, e aviso desde já, acaba dando mais náusea em quem tem estômago fraco, que tendo relevância narrativa.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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