“A Escolha Perfeita 2” acerta as notas

Se o primeiro “A Escolha Perfeita” seguia a cartilha dos filmes de amadurecimento em grupo através das competições, muitas vezes pervertendo esse subgênero, sua continuação segue o mesmo caminho. Ou seja, o negócio agora envolve obrigatoriamente um desafio global. Mas como ficou claro que as disputas e a preparação eram secundárias, ofuscadas pelas piadas vindas com a interação dos personagens, a sequência eleva o nível da brincadeira. Mal vemos as Barden Bellas ensaiando, por exemplo. Elizabeth Banks, promovida a diretora, sacou que o barato é deixar Fat Amy (Rebel Wilson) brilhar, para ficar no exemplo mais óbvio.

Por isso, o fiapo de trama envolve uma série de narrativas distintas que mal se entrecruzam ou se resolvem. E tudo bem. Ninguém está de fato assistindo a “A Escolha Perfeita 2″ para saber como Beca (Anna Kendrick) balanceia seus compromissos com a faculdade, com as Bellas e com o estágio em uma gravadora. Mas sim para ver o novo chefe dela (Keegan-Michael Key) zoar toda a cultura hipster em uma ou duas frases altamente ofensivas e hilárias. Diante disso, importa muito pouco o frágil melodrama entre ela e Chloe (Brittany Snow), que está obcecada com o fato de o grupo ter caído em desgraça.

O conjunto das tramas talvez não forme um filme coeso, mas são um jeito bem divertido de passar duas horas. Especialmente por tudo ser temperado com divertidas versões a cappella do cancioneiro americano, seja interpretado com graça e galhofa pelas Bellas, seja recriado pela precisão industrial do Das Sound Machine, grupo alemão (sacou a referência indireta ao Kraftwerk?) que as substitui depois de elas terem mostrado a vagina de Fat Amy para o presidente americano.

Estamos falando, afinal, de um tipo de filme que tradicionalmente foi pensado para o público infantojuvenil, como “As Apimentadas” ou “Ducks – Nós Somos Campeões”. A subversão radical feita com as piadas adultas é um trunfo mantido e ampliado. Ficam os comentários sussurrados de Lilly (Hana Mae Lee) – “quando eu me formar, eu irei viajar no tempo” –, por exemplo, que ganham a companhia do choque de realidade de Flo (Chrissie Fit) – “eu passei sete anos de diarreia” –, em resposta à Chloe, que pensava que a desgraça das Bellas era a pior coisa do mundo.

A tiração de sarro ainda continua com o filme questionando a sua própria lógica. Em um momento, Beca admite que não consegue nem distinguir quem é quem entre duas das Bellas que só estão ali para preencher os espaços do palco. É um filme de grupo que não conseguiria ter tempo hábil para criar um conflito ou mínimo de personalidade para todas as integrantes. A piada é um misto de mea culpa e redenção, além de nos lembrar que nós também não nos importamos muito com quem está à margem do enquadramento.

Banks, que acumula o trabalho de produtora e coadjuvante como a comentarista Gail (dona de algumas das melhores piadas do filme), acerta ao colocar a competição em perspectiva. Como qualquer evento do gênero, ele só é importante para as pessoas que estão fazendo parte daquilo. Se é que há uma lição em um filme tão deliberadamente leviano como “A Escolha Perfeita 2″, é que as coisas devem ser mais divertidas e as pessoas competitivas são chatas. É preciso, afinal, deixar algumas coisas para trás e começar uma nova fase da vida.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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