“A Invocação do Mal” resolve abraçar os clichês e fazer direito

Não há nada de novo em “A Invocação do Mal”. Na verdade, uma forma de ver o filme é como uma colagem de vários outros filmes de horror, especialmente aquele subgênero específico que envolve uma família que resolve se mudar para uma casa nova, sem se dar conta de que lá foi palco de atos terríveis. A outra forma é notar como esses elementos são combinados de forma harmônica, buscando algo além do que sustos fáceis, mas a criação de um clima de tensão que vai crescendo, pouco a pouco, ao longo do filme.

O filme parte do caso real (ou `real`, se você for cético) da família Perron, que, bem, passa por toda aquela coisa da casa nova. Depois da família sofrer bastante abuso por parte das entidades da residência, entram em cena o casal Ed e Lorrain Warren, vividos por Patrick Wilson e Vera Famiga, que são demonologistas – segundo as informações logo na abertura do filme, ele é o único exorcista não-padre reconhecido pelo Vaticano.

É nesse ponto, quando as histórias das famílias Perron e Warren se cruzam, que o filme escapa um pouco do formatão básico do cinema de horror. Basicamente porque a narrativa coloca em contato com as entidades sobrenaturais duas pessoas – mais um ajudante e um policial que ficam meio que de figuração – que estão meio que acostumados com tudo aquilo. O clima vira de confronto e não de temor diante do inesperado. É uma quebra sensível de ritmo, mas é uma mudança bem vinda para o gênero – além do que, o filme não fica menos assustador só porque aparece alguém dizendo que sabe com que estão lidando.

Ainda que James Wan tenha certos problemas com desenvolvimento e trajetória dos personagens (quando não há aprendizado ou uma mudança de postura dos personagens, a menos que seja intencional, fica um vazio estranho na apreciação da obra), ele brilha na ambientação. Hitchcock – que é homenageado com a presença/ataque de pássaros em certo momento – ficaria orgulhoso. O uso de luz e sombra é impecável, fora o timming dos silêncios ou, ao contrário, da trilha recheada e graves opressivos. Tudo contribuindo para a atmosfera de tensão que vai sendo criada.

Ajuda um bocado ter atores que são um pouco acima da média. Desde os já citados Wilson e Vera, até os que compõem a família Perron. Destaque claro para Ron Livinston e Lily Taylor, como o casal, e para Mackenzie Foy e Joey King, duas das crianças mais promissoras de Hollywood no momento.

Toda a história original, passada nos anos 70, ajuda ao filme em sua ambientação macabra. Desde Anabeth, a mais do que sinistra boneca amaldiçoada – que era uma boneca de pano na verdade, mas não sejamos puristas -, até o fato da família Perron ser composta por cinco garotas. Poucas coisas são mais assustadoras do que o quarto de uma criança, cheio de sombras tenebrosas. Especialmente se essa criança estiver de camisola branca.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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