A terra de Oz está de volta com um visual incrível

Você já viu “Oz: Mágico e Poderoso”. Não no sentido de ser uma refilmagem de “O Mágico de Oz” – não é. Mas no sentido de que a trama que fundamenta o filme já foi usada várias vezes (e talvez a melhor ainda seja a peça “O Berço do Herói”, do brasileiro Dias Gomes). Um homem chega em um lugar e é confundido com um aguardado/profetizado herói. Ele se aproveita da situação até o ponto em que sua mentira fica pesada demais, que é quando as coisas ficam sérias. É aí que ele precisa descobrir em si mesmo o que tem de melhor para enfrentar esse perigo. Pelo bem de outros.

Mas o fato do enredo ser batido, ou ainda, mais descaradamente batido do que poderia ser, não é problema algum. Especialmente em “Oz: Mágico e Poderoso”, que é um filme cheio de qualidades. Fica, apenas, aquela sensação de previsibilidade que é ligeiramente incômoda. É bem fácil prever o que Oscar, o personagem de James Franco, fará em seguida. Mas não se preocupe. Há algumas surpresas legais no meio do caminho que fazem com que você nem ligue tanto assim para isso.

Entre as qualidades está a atuação. A começar por James Franco, o Oscar/Oz, ótimo como um mágico picareta de circo que segue seu caminho mentira sobre mentira. Isso até encontrar uma mentirosa mais habilidosa que ele, entre as três bruxas. Que são um espetáculo à parte. Especialmente Rachel Weisz, como Evanora, e Mila Kunis, como Theodora. Mas Michelle Williams, como Glinda, não fica tão para trás assim. O elenco de apoio, especialmente Zach Braff e Joey King, ainda é responsável por alguns bons momentos.

Parte do desafio desse filme, para o diretor, envolve criar um ambiente que seja, ao mesmo tempo, próximo e distante do “O Mágico de Oz” original. Afinal, o musical estrelado por Judy Garland está muito vivo no inconsciente coletivo para que um outro filme, ambientado no mesmo universo, não faça referência (e reverência) alguma. Mas, ao mesmo tempo, é importante deixar claro que essa é uma outra história, outros personagens, outros dramas.

A estratégia de proximidade fica no campo da homenagem visual ou de referências sutis. Por isso “Oz: Mágico e Poderoso” começa em preto e branco, para aumentar ainda mais o deslumbramento do colorido em Oz, assim como a aventura de Doroty o fez para realçar o efeito do Technicolor. Por isso, também, que eles são atacados por um leão, ou usam espantalhos e funileiros em sua luta. E é muito esperto o momento em que Oscar interrompe uma cantoria, meio que fazendo uma declaração de independência em relação ao “O Mágico de Oz”, que é um musical.

E se “O Mágico de Oz” foi um dos filmes que melhor abusou das cores do Technicolor, “Oz: Mágico e Poderoso” faz isso com a perspectiva forçada do 3D estetoscópio. Inclusive tomando a coragem de usar tanto a profundidade de campo, aumentando a noção de espaço dos lugares (o que torna a aventura realmente épica, especialmente no IMAX), quanto jogando coisas em direção a nós, espectadores. Mas só o suficiente para demarcar o estilo, sem chegar a ser incômodo.

Raimi ainda encontra no filme espaço para imprimir sua marca-registrada, que são os movimentos de câmera ousados – habilidade que o tornou candidato ideal para dirigir “Homem-Aranha”. Ainda que em alguns momentos, o visual hiper estilizado acabe parecendo artificial demais, em muito por causa do movimento de câmera (note quando Oscar e Theodora fogem dos macacos assim que eles chegam a Oz, lembra o visual de “Pequenos Espiões 3D”).

Eu abri o texto falando de como o filme abraça um clichê narrativo como fio condutor. Isso foi, em parte, uma mentira. Porque, ao final, Oscar não se torna um homem melhor quando descobre o poder, a bondade ou a caridade dentro de si. Mas quando usa de mais mentiras e trapaças para chegar à vitória, sem limites ou arrependimentos. Afinal, é por uma boa causa. E, ao fazer um filme em que a moral é `tudo bem mentir, se for para o bem`, pela Disney, Raimi consegue, talvez, a maior trapaça de todas. Bem debaixo de nossos narizes.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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