“A Última Viagem a Vegas” reúne astros em trama burocrática e pouco inspirada

Hollywood tem demonstrado que, em geral, não sabe o que fazer com seus grandes astros quando eles envelhecem. A solução tem sido colocá-los juntos em filmes que celebram seu passado mais glorioso. O resultado, como todo filão, é variável. “A Última Viagem a Vegas” responde pelos pontos mais baixos na curva de qualidade e diversão. As vítimas da vez são Robert De Niro, Michael Douglas, Kevin Kline e Morgan Freeman. O primeiro e o último dessa lista já vêm, inclusive, mergulhando nesse sub-sub-gênero já tem algum tempo.

Os quatro são amigos de infância que, quase sessenta anos depois, irão se reencontrar para o casamento de Billy, o personagem de Douglas, com uma ninfeta. Eles decidem, então, cair na farra em Las Vegas. Mas a coisa não é assim tão simples já que o noivo tem uma rusga com Paddy, vivido por De Niro. O filme se torna, então, uma sucessão de piadas de velho – com alguma graça aqui e ali – interrompida de tempos em tempos pelo melodrama da questão entre os dois.

Paralelamente, Archie, vivido por Freeman, está querendo aproveitar a folga do filho, preocupado com a saúde do pai que sofreu um pequeno derrame e não sai de seu pé. Ao mesmo tempo Sam, interpretado por Kline, ganha um passe-livre da esposa, sem mágoas. São sub-tramas que estão no filme porque duas lições de moral não pareceram suficientes para os produtores, pelo jeito.

A ideia aqui é muito claramente colocar os veteranos em uma versão mais classuda de “Se Beber, Não Case!”, buscando parte do glamour de “11 Homens e um Segredo” – qualquer uma das duas versões. Mas, infelizmente, o roteiro e a direção pouco inspiradas e a inércia dos atores, que, desde sempre, precisam de um diretor de pulso firme para conseguirem seus melhores desempenhos, fazem a coisa ir apenas ladeira abaixo.

Há um momento, por exemplo, em que eles bancam os mafiosos, em uma brincadeira. Mas o que era para ser uma cena divertida se torna simplesmente terrível com De Niro aparentemente esquecendo que já interpretou alguns dos maiores mafiosos da história do cinema e se limitando a fazer uma careta aleatória. É de fazer qualquer amante da sétima arte querer sair correndo para assistir novamente “Era Uma Vez na América”, “Cassino”, “Os Bons Companheiros” ou “O Poderoso Chefão – Parte 2″ e esquecer que presenciou isso.

Claro, a atuação é ruim em comparação com o passado heróico deles próprios – e, nesse sentido, o filme funciona com uma deprimente constatação metalinguística. Ainda são, afinal, Freeman, Douglas, Kline e De Niro e, dormindo, entregam atuações minimamente convincentes. O problema é que minimamente convincentes é pouco para eles (ainda que, vá lá, Kline se salve por pontos).

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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