“As Vantagens de Ser Invisível” mostra o melhor e o pior da juventude

“As Vantagens de Ser Invisível” mostra o melhor e o pior da juventude

A adolescência é um lugar sombrio. Cheio de gente pronta para te antagonizar na escola, de ebulição hormonal e sentimental, de medos e de inseguranças. Mas também é um lugar iluminado. Cheio de primeiras vezes, de energia, de vontades e possibilidades. E, especialmente, cheio de amor. Conseguir um balanço entre esses aspectos é, talvez, o maior mérito de “As Vantagens de Ser Invisível”. E está longe de ser o único.

Charlie, papel de Logan Lerman, é um jovem sensível e retraído que encara um dos maiores desafios de sua vida: passar pelo correspondente norte-americano ao ensino médio. Vive afundado em livros, tentando sobreviver e se manter são com dias divididos entre aulas, veteranos valentões e colega pentelhos. Mas então ele acaba dando um jeito de conhecer os meio-irmãos Patrick e Sam, interpretados por Ezra Miller e Emma Watson. Os dois, que já em seu último ano na escola, acabam “adotando” Charlie. E é essa amizade, cheia de surpresas, percalços, interesses e segredos revelados, que vai conduzindo, com uma sutileza ímpar, o andamento do filme.

Ainda que o longa não se furte em visitar esses lugares sombrios da adolescência, é na relação de amizade entre os três que o filme tem seus melhores momentos. Porque é justamente nessas cenas que ficam guardadas parte das “primeiras vezes”. E isso não é apenas sobre drogas, sexo, festas, ou mesmo beijos. É sobre, por exemplo, ouvir “Heroes”, de David Bowie, pela primeira vez. E se você já ouviu “Heroes”, ou mesmo David Bowie de forma mais genérica, mas ouviu mesmo, não apenas escutou displicentemente, deve ter uma ideia do que isso significa. Por que, no fundo, a adolescência é esse período que se justifica pelas vezes em que se sente o infinito dentro de uma canção pop, ou algo que o valha, como essa cena do filme sugere.

Nessa delicadeza, aos poucos, sa projeção vai mostrando um pouco desses lugares mais obscuros. A homossexualidade descarada de Patrick, a sexualidade vazia de Sam, e os traumas familiares de Charlie vão sendo colocados com calma na trama, até culminarem em uma grande crise, abraçando o clichê de que é preciso que fique o mais escuro possível antes de começar a amanhecer. Essa sutileza não seria possível sem o talento do trio de atores, que vão desmontando seus personagens camada a camada. Lerman segura o filme nas costas, mas Emma faz um esforço notável e bem aproveitado, além de estar cada vez mais bonita, e Miller confirma seu talento, já mostrado em “Precisamos Falar Sobre Kevin”.

Muito do mérito tem que ir para Stephen Chbosky que, não contente em escrever o livro e fazê-lo figurar nas listas de mais vendidos, também adaptou o roteiro e, como se fosse pouco, dirigiu. Esse fato ajuda um pouco a aumentar a autenticidade da adaptação, levando a crer que a maior parte das escolhas do filme são as melhores possíveis. E, considerando o resultado, devem ser mesmo.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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