Caio Castro não é o único defeito de “A Grande Vitória”

A Grande Vitória

Histórias de superação pessoal por conta do esporte são uma fonte inesgotável para o cinema. Especialmente as baseadas em fatos reais. Deve ter sido com isso em mente que “A Grande Vitória” foi feito. E ele até funcionaria narrativamente, não fossem uma série de detalhes. São defeitos demais acumulados para que o filme consiga decolar.

A história em questão é a de Max Trombini, que deixa de ser um garoto-problema na escola e se torna um campeão de judo. O filme parte da infância pobre e mostra os sacrifícios de sua família para lhe colocar no rumo, o que passa pelo sacrifício de sua mãe, empregada doméstica, de conseguir pagar as aulas e, depois, o do próprio Max para conseguir patrocínio e passar pelos árduos treinamentos ou adversários nas competições. O sonho é o de pódio Olímpico.

Tudo isso é amarrado com a sua não-relação com seu pai, dono de parque diversões itinerante que jamais esteve presente. E é aí que começam os problemas, porque a relação entre a ausência do pai e o judo é muito frágil narrativamente. Ainda que o filme se apegue profundamente a isso para conduzir a trama. A ideia é levar Max a um clímax onde será confrontado com o mesmo tipo de escolha feita pelo seu pai. Mas o roteiro não é suficientemente bem amarrado para que isso fique claro. Aí, na hora H, a solução do diretor é recapitular tudo, de um jeito um tanto piegas, enfraquecendo ainda mais a mensagem.

Não ajuda a escalação de atores. Caio Castro, como Max, para começar, não é um ator de recursos e, limitado a interpretar a si mesmo, acaba criando um personagem é difícil de se relacionar. Arrogante e prepotente, cuja maioria dos problemas tem uma única origem comum: ele mesmo. Isso torna complicado simpatizar com ele em sua queda – literal -, em que o erro poderia ter sido evitado caso ele ouvisse seu Sensei, que o alertou do salto alto no tatame. Isso para nem começar a falar de Sabrina Sato.

Considerando que ele é o responsável por sustentar o filme, a má escolha de Castro acaba nublando as boas, como a de seu avô, vivido por – vejam vocês – Moacyr Franco que, apesar do rosto endurecido pelas plásticas, consegue entregar alguns bons momentos. Ou mesmo o primeiro mestre de Max, interpretado por Tatu Gabus Mendes, abraçando uma mistura de galhofa e sabedoria que se revela bem interessante.

O elenco de apoio poderia até segurar a onda, mas isso não acontece por duas escolhas estéticas bem complicadas por conta do diretor, Stefano Capuzzi, em sua estreia nos cinemas. A primeira, e mais incômoda, é a trilha, presente em 100% das cenas, que tenta forçar uma emoção que não está lá. A outra é o aspecto de filme-de-casamento da edição, que abusa de sobreposições de imagens – como no já citado clímax -, fazendo com que as boas imagens em câmera lenta das lutas, por exemplo, fiquem subaproveitadas.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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