“Círculo de Fogo” é o lançamento mais humano de 2013

Vendo os trailers, dá até para imaginar que “Círculo de Fogo” é sobre robôs gigantes que foram criados pela humanidade para enfrentar monstros igualmente enormes que estão invadindo a Terra através de uma brecha no meio do Pacífico. Quer dizer, isso tudo está lá, mas não é sobre isso que é o filme. Nem mesmo sobre as impressionantes batalhas entre essas duas facções.

O que Guillermo del Toro, que estava sem filmar desde “Hellboy II – O Exército Dourado”, de cinco anos atrás, conseguiu construir foi uma história de como a humanidade iria reagir a um ataque externo. É como se todo o nosso mundo fosse Nova York depois do 11 de setembro. E ele não poupa nosso lado mais egoísta, apesar de exaltar nosso lado mais brilhante e, logo, mais humano.

A trama acompanha Raileigh Becket, papel de Charlie Hunnam, um dos pilotos humanos que controla os Jaegers, como são chamados os robôs. Há todo um drama envolvendo o fato dele estar afastado das batalhas que é apresentado nos primeiros minutos do filme. Quando ele é chamado de volta, para tentarem uma última e desesperada investida, já que a humanidade vem sendo atacada com maior frequência e, pior, sendo derrotada.

O desafio de Raileigh envolve encontrar um parceiro à altura, já que na interessante mitologia criada por Del Toro, os Jaegers não podem ser pilotados por uma única pessoa. A descarga neural é pesada demais para isso. A consequência direta envolve a necessidade de que os pilotos estejam em sintonia e precisem, inclusive, compartilhar suas memórias, o que garante parte dos desdobramentos emocionais mais interessantes da trama. A tecnologia também é o grande trunfo do roteiro, a ser sacado em um ótimo momento estratégico.

O trunfo maior do filme envolve a meticulosidade de Del Toro. Ele não construiu uma trama, simplesmente. Mas todo um universo novo. Ele pensou, meticulosamente, como uma sociedade se transformaria depois de um ataque desses. E isso vai desde charlatões que vendem o pó dos ossos dos Kaijus como afrodisíaco – como os monstros são conhecidos – até seitas que acreditam neles como castigo divino. Isso sem falar nas atitudes dos líderes políticos mundiais, que optam pela segregação quando a resposta positiva claramente é a união e a cooperação.

Mas, no final das contas, é um filme em que monstros e robôs se atracam em uma batalha física. E isso é bastante impressionante. Del Toro posiciona a câmera de forma que jamais esqueçamos a dimensão dos confrontos. É a satisfação extrema daquela parte de nós que ainda tem oito anos e adorava ver seriados japoneses como “Changeman” (ou “Power Rangers”, para as crianças dos anos 90). Especialmente quando a batalha acontece na cidade.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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