“Contra o Tempo” é uma interessante ficção científica

Imagine o cenário: você acorda em um trem, alguém começa a te chamar por um nome que não é o seu. Você olha no espelho e não reconhece o rosto que vê ali refletido. Você não entende o que está acontecendo, nem o que está fazendo ali. Até que um desastre acontece. E aí, você acorda em um lugar completamente diferente. Só para, em pouco tempo, viver toda a história do trem novamente.

E é essa trama, parte “Feitiço do Tempo” (“Groundhog Day”), parte “12 Macacos” (“12 Monkeys”), parte “Matrix”, que marca “Contra o Tempo” (“Source Code”). E este é apenas o segundo filme de Duncan Jones, que já tinha impressionado muito os exibidores com sua estreia: “Lunar” (Moon).

O personagem principal é interpretado por Jake Gyllenhaal, que entrega, como de costume, um bom trabalho. A sua missão é voltar ao “passado” para tentar evitar que um ataque terrorista ocorra. Lá ele interage com os passageiros várias vezes até conseguir, finalmente, identificar o terrorista. Ele corre contra o relógio, já que outro atentado foi anunciado. Qualquer outro detalhe da trama estragaria algumas das boas surpresas do roteiro de Ben Ripley.

Exatamente como em “O Feitiço do Tempo”, a força do filme está na recriação da mesma cena, que vemos várias e várias vezes. Mas cada vez que ele acorda no trem sua reação é um pouco diferente, o que faz com que cada passageiro também reaja de forma diferente. É incrível como Jones consegue tornar cada ida ao passado mais e mais interessante, levando ao espectador o jogo de detetive. Afinal, sabemos tanto quanto o protagonista e, por isso, temos a oportunidade de, junto a ele, adentrar a investigação.

E acaba que identificamos o tal terrorista quase ao mesmo tempo do personagem de Gyllenhaal (ainda que dê para desconfiar desde o início), o que faz com que o filme seja mais recompensatório do que óbvio, já que nos sentimos inteligentes ao “sacarmos” a trama. Afinal, ele é construído de forma a todos serem suspeitos em potencial.

Duncan Jones ainda é beneficiado pelo fato de ter bons atores à mão. Michelle Monaghan, como a garota do trem (cujo personagem não evolui, mas recomeça do zero todas as vezes, o que é um desafio de atuação), e Vera Farmiga, que interage com o personagem de Gyllenhaal no presente “objetivo”, são duas excelente aquisições.

Publicado originalmente no Portal POP.

Sobre o autor Veja todos os posts

Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *