“É quase uma `Malhação` sem pudor”, diz Malu Rodrigues sobre “Confissões de Adolescente”

Malu Rodrigues

Tão complicado quanto ser um adolescente é retratar essa fase na ficção. Por isso, então, fica o grande mistério em relação à “Confissões de Adolescente”, livro semi-autobiográfico de Maria Mariana que virou peça, série para a TV e, agora, um belo e merecido filme – sobre o qual falamos mais na tradicional resenha. A atriz Malu Rodrigues, que interpreta a Alice no filme, conversou com o POP sobre, entre outros assuntos, o que faz a história continuar tão atual.

“Algumas coisas mudaram, a tecnologia entrou em peso nos últimos anos, e acho que tudo acontece um pouco mais cedo, mas eu acho que os dilemas são os mesmos, os sentimentos são os mesmos. Todo mundo tem a primeira vez, todo mundo tem o primeiro beijo, fica nervoso e tem prova e isso não muda muito”, diz Malu, que ressalta ainda, para o frescor da obra, o trabalho de Matheus Souza, responsável pela adaptação do roteiro. “O Matheus é incrível. Ele tem a alma muito jovem. É igual a gente. É um filme muito legal porque não é adulto falando sobre adolescente, é adolescente falando sobre adolescente, mesmo”, finaliza, com o charmoso e carregado sotaque carioca – soa como “meishmo”.

Malu interpreta Alice, personagem que se bate um bocado com a questão da primeira vez com seu namorado. Mas ela acha importante dizer que já está bem distante do personagem, que tem 16 no filme, ao contrário dos seus 20. “A história dela [Alice], acho que é o maior dilema dos adolescentes, que é a primeira vez. Mas as coisas são meio desastrosas justamente pela falta de diálogo do pai, que não conversa, não explica as coisas”, diz, dando um exemplo claro do quão fácil é se relacionar com a história.

“É tão delicadinho, e é bonito por isso. Mesmo os assuntos mais sérios são delicados, tratados de forma muito simples e com muito carinho. Acho que isso que é o legal desse filme”, diz a jovem atriz, já entrando na seara da direção: “o Daniel [Filho, o diretor] não deu o roteiro para a gente. A gente fez uma leitura geral, de tudo e aí dava a cena, sei lá, 10 minutos antes, para a gente decorar. Ele queria esse frescor, para a gente não chegar com essa coisa cristalizada.” Mas Malu achou importante dizer que, de sua parte, não há improvisos. Tudo o que está no roteiro são as falas de sua personagem.

Todos esses elementos culminam no que é um dos primeiros e poucos filmes genuinamente adolescentes brasileiros – que irá disputar, ombro a ombro, com pérolas do quilate de “As Vantagens de Ser Invisível”. “Eu acho que é o grande diferencial do filme, né? É quase uma `Malhação` sem pudor, digamos assim. Por que `Malhação` está na TV e é num horário que não é muito apropriado, então adolescente da `Malhação` não fala palavrão, por exemplo. É um absurdo, por que é o que adolescente mais fala. Principalmente menino. Eles nunca falam `eae? já deixou de ser virgem?`, é `eae? Você já comeu alguém?` e no filme tem isso.”

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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