Em “Frankenweenie” Tim Burton faz grande homenagem aos clássicos de horror

Em “Frankenweenie” Tim Burton faz grande homenagem aos clássicos de horror

Tim Burton nunca foi de esconder suas referências. Há até quem acuse o diretor, sempre tão obcecado com o expressionismo alemão, de tentar, a cada filme, repetir “O Gabinete do Doutor Caligari”. Não sem um pouco de razão, inclusive. Mas “Frankenweenie” abraça um outro aspecto da formação estético-cinematográfica do diretor, que ele mesmo explora pouco: os filmes de horror clássicos. São longas que variam entre arte cinematográfica e o trash (este último devidamente reverenciado por Burton em “Ed Wood”).

“Frankenweenie”, na verdade, começou como um curta, com atores reais, que Burton dirigiu bem no começo de sua carreira, com algumas pitadas de “Vincent” outro curta, também em stop-motion, do começo da carreira de Burton. Este fazendo uma bela homenagem a Vincent Prize, grande ator do cinema de horror presente em “Edward Mãos de Tesoura”. Antes mesmo do primeiro “Batman” e “Os Fantasmas se Divertem”. O curta original era mais centrado na relação de amizade do garotinho, Victor Frankenstein, e seu cachorrinho Sparky. O pobre cão é atropelado em um infeliz acidente. Mas a literatura e o cinema mostram que a morte jamais separou alguém com sobrenome Frankenstein de um ente querido.

Assim é a história central deste longa, mas Burton se permite passear melhor pelos colegas de escola de Victor, além da população da pequena cidade de New Holland. Começando pelo colega de classe, corcunda, chamado Edgar (evitando o clichê do “Igor” e, ao mesmo tempo, homenageando o escritor Edgar Allan Poe), que é o primeiro a descobrir que Victor é capaz de ressuscitar os mortos. E é claro que ele não consegue ficar calado, afinal há uma feira de ciências a ser vencida.

Nas tentativas de seus colegas de repetir o experimento de Victor é que acaba acontecendo a maior parte das ótimas homenagens aos clássicos do terror. Vemos versões da Múmia, do Monstro do Pântano (em dobradinha com Gremlins), Homem (Peixe) Invisível, Lobisomem, Drácula e até mesmo um inesperado, e bem-vindo, Godzilla. Há algumas referências mais delicadas, como os pais de Victor assistirem “Drácula”, estrelado por Christopher Lee, a poodle de Elsa que tem o mesmo penteado de “A Noiva de Frankenstein”, de James Whale, ou mesmo a tartaruguinha que se chama Shelley, ao mesmo tempo uma trocadilho para concha, “shell”, em inglês, e referência a Mary Shelley.

“Frankenweenie”, desde o curta original, bebe muito mais da fonte dos filmes de “Frankenstein”, dirigidos por Whale e estrelados por Boris Karloff do que no romance original de Mary Shelley. Os filmes criam uma trama sobre a intolerância humana frente ao grotesco, ou mesmo àquilo que é considerado “diferente”, tema caro a Burton. O romance, para fins de comparação, é uma profunda investigação sobre a natureza humana, especialmente sobre os limites morais e éticos da curiosidade científica.

Os vários tons de cinza (sem trocadilho aqui) também colaboram melhor com o design de produção de Burton. Particularmente com os traços dos personagens, estes sim, inegavelmente expressionistas. As crianças, colegas de Victor, são tão estranhas e completamente diferentes umas das outras que coloridas, talvez, acabassem parecendo bizzarras demais.

De qualquer jeito, “Frankenweenie” é um bem-vindo retorno de Burton às suas origens, escapando um pouco de produções anabolizadas como “Alice no País das Maravilhas”, que acrescentam pouca coisa ao diretor que alguns milhões de dólares na conta.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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