“Enquanto Somos Jovens” faz duro ataque aos hipsters

O conflito de gerações está no centro de “Enquanto Somos Jovens”, o mais recente trabalho de Noah Baumbach a chegar aos cinemas brasileiros. Representando os novos velhos, estão Josh e Cornelia (Ben Stiller e Naomi Watts), recém-chegados à casa dos 40 anos e se sentindo em um limbo, já que não se sentem idosos, mas também estão desconectados da vida de seus amigos, com filhos. Do lado dos novos jovens estão Jamie e Darby (Adam Driver e Amanda Seyfried), vindos diretamente da cultura hipster, cheios de referências e cultuando discos de vinil, filmes em VHS e trabalhos manuais.

Quando Josh e Cornelia conhecem Jamie e Darby, imediatamente se encantam. Como seria diferente? Os hipsters se permitem gostar de tudo. Ouvem de tudo, assistem de tudo e leem de tudo. Sem preconceitos. É a reação natural de quem tem acesso a toda a produção cultural da humanidade. Daí o encantamento com a geração anterior, que busca autenticidade acima de tudo. Porém logo o que parece ser uma elegia se torna uma dura crítica, que passa pelo reconhecimento do vazio conceitual, verdadeira marca destes jovens.

Para isso, Baumbach, que escreveu o roteiro, desenvolve uma história completamente metanarrativa. Josh é um documentarista que está empacado em seu segundo trabalho, Cornelia é produtora e filha de um grande documentarista e Jamie é um pretendente a documentarista. O que permite que os personagens demonstrem em seus diálogos o tipo de filme que “Enquanto Somos Jovens” tenta emular em sua estrutura.

Não é por acaso que Josh fala, por exemplo, nos trabalhos de Sergei M. Eisenstein, cineasta russo que desenvolveu o que se convencionou chamar de montagem intelectual – as imagens são colididas umas às outras pela edição, gerando novos significados. O personagem de Stiller chega a dizer que busca, com seu filme, resolver o problema de juntar forma e conteúdo em relação ao cinema, coisa que Baumbach, em parte, faz em “Enquanto Somos Jovens”.

A montagem de “Enquanto Somos Jovens” parece estranha em princípio, justamente por buscar a colisão das imagens, ao invés de conduzir o espectador pela narrativa, como faz o grande cinema hollywoodiano. O resultado é uma demonstração radical do mesmo tipo de conflito de gerações apresentado pela trama pelas sequências que entram em choque umas com as outras. É quando Josh se dá conta do conflito central da trama, percebendo que a geração hipster talvez não seja essa maravilha toda.

Surge então uma leitura (possível) do filme. Baumbach está fazendo uma dura crítica aos hipsters de raiz – aquele morador de Williansburg, no Brooklyn, em Nova York, que anda de bicicleta, usa bigode e acha a melhor coisa do mundo conseguir achar um vinil do The Meters em algum brechó. Mas, através do que ele já mostrou em sua filmografia, a ideia aqui talvez seja mais uma aceitação em relação à sua própria geração do que a reprimenda à anterior.

“A Lula e a Baleia”, “O Solteirão” e “Frances Ha”, os melhores filmes de Baumbach, são todos sobre amadurecimento. Sobre entrar na vida adulta, nem que seja tardiamente. “Enquanto Somos Jovens” é, ao contrário, um filme sobre pessoas que já estão na vida adulta, mas não sabem muito bem o que fazer agora que estão lá. É, em parte, um reflexo do próprio amadurecimento do diretor, que está com 45 anos, justamente a faixa etária de Josh e Cornelia.

É como se Baumbach dissesse, afinal, que entre os hipsters – uma geração que aceita tudo sem filtros ou restrições – e seus contemporâneos – que desconfiam de que tudo seja (no fundo) um esquema de marketing – talvez seja melhor ser a si próprio, sem afiliações. Ele não precisa enganar ninguém, quanto mais a si mesmo.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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  • ISTO NÁO É UM COMENTARIO, DESCULPE. UMA SUGESTÃO. SERÁ QUE O SENHOR PODERIA ESCREVER UMA RESENHA SOBRE ”GINA IMPERIAL – A BIOGRAFIA NAO AUTORIZADA DE GINA LOLLOBRIGIDA”’ DE MINHA AUTORIA. A OBRA ORIGINAL, EM INGLÉS, ”IMPERIAL GINA. THE VERY UNAUTHORIZED BIOGRPHY OF GINA LOLLOBRIGIDA” FOI LANÇADA NOS ESTADOS UNIDOS EM 1990.. A PRIMEIRA EDIÇAO BRASILEIRA, PELA NORDICA, ´E DE 1996. NO ANO PASSADO, EM CURITIBA, LANCIE A NOVA EDIÇAO ATUALIZADA PARA COMEMORAR OS 90 ANOS DA ATRIZ ITALIANA. CASO O SENHOR TENHA INTERESSE, SERIA UM PRAZER ENVIAR-LHE UM EXEMPLAR DA OBRA. E, AO MESMO TEMPO, LHE CONVIDO PARA UM NOVO LANÇAMENTO DE ” GINA IMPERIAL” QUE SERÁ EM SAO PAULO, NO SÁBADO, 19 DE AGOSTO, 2017. NO SHOPPING LESTE ARICANDUVA. NAS LIVRARIAS CURITIBA, 10,30HS.

    GRATO PELA ATENÇAO,
    LUIZ CANALES

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