Família pré-histórica é aposta da DreamWorks na animação

É possível que a era mais criativa das animações esteja ficando para trás. E o marco, talvez, seja “Wall-e”, ou “Up – Altas Aventuras”, ambos da Pixar. Se esta hipótese estiver confirmada, talvez estejamos vivendo uma época de aperfeiçoamento de fórmulas já testadas e aprovadas. De um lado, teríamos uma quantidade maior de continuações e derivados do que nos anos 90, mais frutíferos. De outro, novas tramas baseadas nas mesmas histórias e novos personagens que já estão se tornando arquetípicos.

Mas, se “Os Croods” é um indício claro de que as animações estão caindo em estruturas formulaicas, isso nem de longe quer dizer que ele seja menos divertido, ou que sua lição – porque sempre há uma lição – seja menos edificante ou eficiente.

Na trama acompanhamos uma família, os tais Croods, que só podem ser descritos como homens de Neanderthal (ainda que isso não fique lá muito claro). O pai, Grug; a mãe, Ugga; a avó, Gran; e os três filhos, Eep, Thrunk e Sandy. Eles vivem em uma caverna, com medo de tudo que existe à sua volta, saindo apenas de dia e para caçar. Isso muda quando aparece um humano, Guy, cheio de vontade de ver o mundo, ao mesmo tempo em que a deriva continental faz com que a adorada caverna seja destruída, obrigando os Croods, e seu novo amigo, a partirem em busca de um novo abrigo, ou de outro lugar para viver.

A tensão básica do filme envolve o caráter superprotetor de Grug, sempre querendo todos ao redor de si e fazendo questão da caverna, com os caprichos libertários de Eep, adolescente que é, desejando que a vida seja mais do que simplesmente passar o tempo todo enterrada em uma caverna. Guy, nesse contexto, é mais do que um mero interesse romântico. Seu jeito hiponga-surfista-californiano funciona como um forte contraponto ao medo exagerado de Grug. E, claro, em alguns momentos eles vão aprender uma coisa ou outra sobre si mesmos e acabar entendo melhor de harmonia familiar.

Como tudo o que está escrito aí em cima já foi visto em outras animações, vamos ao que “Os Croods” tem de diferente e, nesse caso, de melhor. O mundo em frente à caverna, o mundo que os Croods conhecem, é árido, feio e em tons pastéis. E, forçando a mão na analogia com “A Caverna”, de Platão, o mundo que eles irão conhecer, ao contrário, é cheio de cores e sabores novos. Infinitamente mais bonito, representando, claro, todas as possibilidades que se perdem com a cautela excessiva.

O efeito visual das cores da floresta é potencializado pelo 3D, com a perspectiva forçada, ajudando na ideia de que o mundo fora da caverna é maior e mais interessante – ainda que, sim, bastante perigoso. Essa diferença entre os dois ambientes, marcada pelo visual, lembra o que foi feito em Technicolor em “O Jardim Secreto”, de 1949, e “O Mágico de Oz” (e foi repetido agora em “Oz: Mágico e Poderoso”), e em 3D, mais recentemente, com “Coraline e o Mundo Secreto”.

Uma outra característica interessante de “Os Croods” é guardar seus melhores momentos para o final. O filme começa bem e fica morno até a metade para, só então, revelar suas melhores cenas de ação e, principalmente, suas melhores piadas. É quando deixa de ser apenas engraçadinho para ficar verdadeiramente hilário. Coisa rara em animações, que costumam dar o seu melhor logo de cara, esfriar no meio, e terminar apelando mais para emoções do que para a graça.

Sinal que nem tudo é fórmula. Ao menos não ainda.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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