“Game of Thrones” S05E06 – “Unbowed, Unbent, Unbroken”

É curioso que um episódio que devota a maior parte do tempo para o destino das irmãs Stark tenha sido nomeado em referência às Sand Snakes de Dorne. As três filhas de Oberyn Martell fazem o misto de oração e profissão de fé, dizendo que não irão se curvar, se dobrar ou mesmo se quebrar por ninguém. O que se segue é uma cena de ação filmada um tanto burocraticamente, que termina com um desfecho meio óbvio para a missão de resgate de Jamie Lannister.

Mas isso é perfumaria perto do resto do episódio, que já abre com Arya Stark preparando mais um cadáver. Essa é mais uma cena em que a sutileza da construção do quadro é mais importante do que toda a grandiosidade da produção. O semblante dela parece conformado, mas quando vemos seus dedinhos tamborilando na mesa enquanto o corpo é retirado, podemos ter uma noção de sua impaciência. Dali em diante, ela confronta e é confrontada, até que o homem com o rosto de Jaqen H’ghar diz que ela pode até não estar pronta para se tornar ninguém, mas poderá se tornar outro alguém. Isso quer dizer que ela finalmente se colocou no estado mental que lhe permitirá ser treinada nos caminhos do assassinato.

Isso não veio sem que Arya finalmente compreendesse o valor social da mentira na cena mais tocante do episódio, em que ela conforta uma garota moribunda. O arco dela se espelha no de sua irmã, que sofre para sustentar suas próprias mentiras. Sansa, que vai se tornando uma personagem cada vez mais interessante, demonstra uma força e habilidade impressionantes na fatídica noite de seu segundo casamento, desta vez, com o cruel Ramsay Bolton. E não é fácil manter a altivez sendo entregue no altar, pelo homem que ela pensa ser responsável pela morte de seus irmãos, para o filho do homem que matou seu irmão mais velho e sua mãe. A cena é construída com bastante tensão, com a grande surpresa ser o fato de que nada aconteceu de trágico durante a cerimônia. Durante apenas, já que, depois, a jovem senhora de Winterfell amarga um cruel destino.

Se “Unbowed, Unbent, Unbroken” começa e termina com as irmãs Stark, o recheio do episódio marca o retorno à King’s Landing de dois grandes personagens, o que trará consequências futuras. Petyr Baelish, um dos personagens importantes, começa um jogo perigoso ao se vender como amigo de todos, prometendo mundos e fundos para Cersei que, por sua vez, também se coloca na berlinda. Mas, se o Mindinho segue manipulando em busca de poder, a agenda da Rainha-Mãe é um tanto mais obscura. Ela deliberadamente provoca os Tyrell, de quem a coroa tanto depende. Por isso, Olenna, a outra personagem, busca lhe colocar algum senso na cabeça.

Cersei, em breve, deverá ser vítima de suas próprias articulações, já que ela é tão ou mais pecadora do que Loras Tyrell, seu ex-noivo, preso por ser gay. Em uma só tacada, porém, ela conseguiu se livrar do casamento indesejado e excluir Margaery, acusada de perjúrio, do convívio do filho, consolidando seu poder sobre o Trono de Ferro. Tudo parece muito bom para ela e, se há uma constante em “Game of Thrones”, é que nada que é bom dura muito.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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