Game of Thrones – The Winds of Winter

Game of Thrones - The Winds of WinterGame of Thrones - The Winds of Winter

O texto é longo e cheio de spoilers.

Depois de dois anos em que as tramas de Game of Thrones sofreram uma franca expansão, fragmentando radicalmente a narrativa, tornando cada episódio uma colagem de passagens curtas de cada núcleo, The Winds of Winter finalmente indica convergência. Serão basicamente três pontos de atenção central de agora em diante: Daenerys Targeryan, Jon Snow e Cersei Lannister (Emilia Clarke, Kit Harrington e Lena Headey), com outros arcos menores orbitando ao redor. É provável que, dessa forma, a próxima temporada seja mais profunda no desenvolvimento dramático e de ação.

A confluência coincide com os ventos do inverno do título. Abandona-se o gerúndio do “chegando” — “Winter is coming”. O Inverno, a praga apocalíptica que esteve entre os temores dos homens de Westeros pelo último milênio, finalmente chegou. A constatação deste fato é recebida por Jon Snow e sua irmã de criação, Sansa Stark (Sophie Turner), com um misto de alívio e desespero, o que é apropriado para o momento. De um lado o fim da expectativa que tomou os corações dos homens por gerações. De outro, o temor pelas consequências. Este não será o único momento em que estes sentimentos dúbios darão o tom.

As duas coroações, a oficial e ilegítima de Cersei e a não-oficial e legítima de Jon Snow, se contrapõem pela dinâmica no olhar. O de Jamie Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) para a irmã encontra um paralelo curioso e apropriado em como Sansa reage à Petyr Baelish (Aidan Gillen). Um cuidado pouco usual em uma série de TV, especialmente Game of Thrones, cuja proteção do investimento envolve dar pouca liberdade criativa para os diretores. O mérito é de Miguel Sapochnik, o diretor deste episódio e do último, Battle of The Bastards, além de The Gift e Hardhome, seguramente os melhores episódios das últimas temporadas.

Já na primeira sequência, a preparação dos membros da coroa para o julgamento, fica claro que The Winds of Winter possui um ritmo particular, que vai se alastrar ao longo de todo o episódio. Sapochnik tem mais tempo com os 10 minutos adicionais de duração, o que lhe dá oportunidade de incluir cenas como estas. Não apenas chamam atenção para o árduo detalhamento da produção, mas principalmente ditam o andamento da narrativa, que nos brindará com uma série de momentos memoráveis. O mais pirotécnico deles é a explosão do Grande Septo de Baelor, matando os opositores de Cersei e encerrando uma dúvida que perdurou pelas duas últimas temporadas: a fé do High Sparrow (Jonathan Pryce) é real?

A resposta é sim. Diante do risco de perder a vida, ao se dar conta de que Cersei planejava algo, Margaery Tyrell (Natalie Dormer) imediatamente se despe da farsa religiosa que montou, para o horror de High Sparrow. Sua reação reflete a mesma serenidade de suas pregações. Ele acredita que a justiça divina é soberana, o que é radicalmente contradito pelo desenrolar dos eventos. Fé e política só se misturam, postula o desenrolar narrativo de Game of Thrones, enquanto os governos se beneficiam de alguma forma. Basta ver a estratégia de Tyrion Lannister (Peter Dinklage) para canonizar Daenerys em vida. No momento em que a religião se coloca no caminho dos interesses do trono ela é tirada da equação.

O momento mais cinematográfico de The Winds of Winter esteve a serviço de um dos maiores mistérios de toda a história: quem são os pais de Jon Snow. Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright) usa seus poderes para encontrar as versões jovens de seu pai e tia, Ned e Lyanna Stark (Robert Aramayo e Aisling Franciosi). Ela acabou de dar à luz um bebê e pede que o irmão o proteja. A câmera enquadra o recém-nascido e a imagem dissolve para um close semelhante de Snow. Nenhum personagem disse que bebê e adulto são a mesma pessoa, mas entendemos isso através da linguagem cinematográfica.

A revelação implica que Snow é tão herdeiro ao Trono de Ferro quanto Daenerys. Mas cabe perguntar: a essa altura, importa hereditariedade? O que o recém-proclamado Rei do Norte e a Khaleesi têm em comum é a lealdade de seu povo conquistada com atos de bravura e liderança real. Algo que nem passa pela cabeça de Cersei, que, por mais iconoclasta que seja sua coroação por ser mulher, ainda é uma representante da velha e tradicional organização de Westeros e, por isso, parece fadada à derrota (como acontecerá é outra questão).

O mistério maior está em relação ao desenrolar dos fatos quando Jon Snow se encontrar com Daenerys Targaryan e o que, juntos ou separados, farão diante do Rei da Noite (Vladimir Furdik) e seu exército além da Muralha. Mas isso é um assunto para o ano que vem.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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