História contraditória de “Até que a Sorte nos Separe 2″ atrapalha a diversão

História contraditória de “Até que a Sorte nos Separe 2″ atrapalha a diversão

Se não fosse o mesmo Paulo Cursino o envolvido em “Até que a Sorte nos Separe 2″, daria para dizer que o roteirista desta continuação não viu o original, do ano passado. Só isso justifica o fato de que o personagem central comete exatamente os mesmos erros, não tendo aprendido nem mesmo uma única lição. E isso traz um problema gigantesco, já que transforma Tino, personagem vivido por Leandro Hassum, de um adorável bobalhão em um completo idiota, anulando quase completamente seu carisma.

Seguindo os acontecimentos do primeiro filme – que não chega a ser um gancho, propriamente dito -, a família agora está na pindaíba. Quando tudo parecia perdido, eis que morre o rico tio Olavinho, deixando uma boa quantidade de dinheiro para eles. Com a condição, prevista no testamento, de que suas cinzas precisam ser jogadas no Grand Canyon, em Las Vegas. Um vez lá, Tino consegue perder tudo de uma tacada só, em uma mesa de poker. O que o devolve a uma situação parecida de sua primeira desventura.

Dessa vez, porém, a coisa é mais caricatural. Rocambolesca, mesmo. Se por um lado faz sentido, pelo próprio surreal que é ter Las Vegas como cenário – considere que a cidade fica no meio do deserto e se sustenta exclusivamente de dinheiro perdido em jogatina por gente que acha que gastar é divertido, ou que pensa que há alguma chance real de enriquecimento -, por outro, faz o filme ficar estranho pelo absurdo das situações. São assassinos mexicanos, ajudantes de hotel milionários, sósias de celebridades e um agente federal que é a cara do Anderson Silva. Especialmente por ter sido interpretado por Anderson Silva.

Esses elementos transformam o filme em uma eterna busca pela piadinha fácil. O que é bem sucedido, eventualmente. Especialmente nos momentos em que Hassum está no centro do espetáculo. Seu tempo de comédia, tão bom no cinema quanto na TV, rende algumas das melhores cenas. E, não por acaso, em geral, elas não dizem absolutamente nada para o andamento da narrativa.

Porque é aí que você vê que Tino está, sempre, tomando a pior decisão possível, se apoiando em planos tão imbecis quanto mirabolantes, para conseguir recuperar o dinheiro sem contar para sua esposa, agora interpretada por Camila Morgado, substituindo Danielle Winits. Lembrando que o real motivo de crise no primeiro filme foi justamente o fato dele não ter dividido o fardo com ela. O resultado é fazer o personagem deixar de ser carismático e se tornar, rapidamente, odioso.

Para coroar o espetáculo, há uma questão de contradição existencial. “Até que a Sorte nos Separe 2″ nega completamente a moral da história do original, inspirado no livro de auto-ajuda “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”, escrito por Gustavo Cerbasi. E olha que a coisa ainda era meio capenga. Até porque, novamente, o casal estúpido enriqueceu. Sem esforço algum. Mas, não bastasse isso, o primeiro ainda postulava que não era o dinheiro o responsável pela felicidade deles, nem a ostentação brega. Mas sua originalidade e amor familiar.

Na continuação, nem isso. É impossível ser feliz e pobre. É o dinheiro mesmo que os une e não se fala mais nisso.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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