Indecisão de gênero compromete resultado de “Caçadores de Obras-Primas”

Os Caçadores de Obras-Primas

O espírito de “Caçadores de Obras-Primas”, seu coração, está no lugar certo. Já faz um tempo que o cinema parece clamar por um filme de guerra com a leveza de um “M.A.S.H.” ou “Hogan`s Heroes”. Mas a execução, infelizmente, deixa a desejar justamente porque esse clima mais suave não é abraçado em sua plenitude. O que acontece é que, quando ele resolve ficar mais pesado, dando um certo choque de realidade, o tom é tão deslocado que o estranhamento é inevitável.

O filme é baseado em fatos reais e acompanha um destacamento americano que busca preservar as obras de arte que Hitler estava se dedicando a roubar e/ou destruir (ele não era muito fã dos modernos como Gustav Klimt e Pablo Picasso). Para isso se reúne um grupo de especialistas americanos, mais um britânico e um francês, interpretados por um dos melhores times de atores reunidos desde “Os Mercenários”: Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Bob Balaban, Hugh Bonneville e Jean Dujardin, além de George Clooney, que também faz o trabalho de diretor.

Eles seguem o caminho da campanha americana, entrando pela Normandia e seguindo em frente, enfrentando, eventualmente, o próprio exército americano, que não estava muito preocupado com esculturas e pinturas. No fim, a coisa se trata também de uma corrida contra o tempo, primeiro com o exército nazista e seu plano de fazer o Museu do Terceiro Reich, reunindo as obras roubadas, e, depois, com os russos, que vinham fazendo sua própria coleta – e é discutível, como sempre, fazer dos americanos heróicos curadores da arte e transformar os russos em interesseiros ganaciosos.

Clooney encara um problema compreensível com seu filme. Ele mesmo, à todo momento, com seu personagem, defende a necessidade de preservar a história da humanidade. Afinal, é a arte, e não a guerra, que nos diferencia de outros animais. O ato de se fazer algo que não tenha valor prático na sociedade é o que nos define de forma mais profunda e elevada. Todo o ponto do trabalho deles é, justamente, preservar a cultura humana e sua história. Mas, ao mesmo tempo, “Caçadores de Obras-Primas” é um filme. Hollywoodiano. O quanto da história pode ou deve ser alterado em prol do filme.

E aí, talvez, o erro fundamental de Clooney seja o de optar por uma comédia dramática. Ao evitar dobrar alguns fatos em prol da narrativa, o resultado fica inconstante. Os momentos cômicos são preciosos, especialmente por ter no elenco atores como Murray, Goodman e o próprio Clooney, que empresta seu charme natural para a direção. Mas os dramáticos, por oposição natural, deixam um gosto amargo demais na boca.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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