Mesmo Se Nada Der Certo

Mesmo Se Nada Der Certo

Quando as músicas de Dave Kohl (Adam Levine, o vocalista do Maroon 5) vão parar na trilha de um filme, ele recebe o convite de uma gravadora para ir a Nova York. Gretta (Keira Knightley), sua namorada e parceira em algumas composições, vai junto. No começo, tudo é uma grande aventura e ambos estão em êxtase com todas as novidades. Mas a fama e a vida dele de rock star logo os afasta, ela decide voltar para casa, até que se encontra com o produtor Dan (Mark Ruffalo).

Dan, por sua vez, está passando por um dos piores momentos da sua vida. Separado da esposa (Catherine Keener) e com dificuldades de se conectar com sua filha (Hailee Steinfeld), é jogado para escanteio pelo sócio (Yasiin Bey) da gravadora que fundou e tornou célebre. Seu dia acaba em um boteco qualquer onde Gretta, por insistência de um amigo, sobe ao palco para tocar uma música.

Só a abertura de Mesmo Se Nada Der Certo, citada nos parágrafos acima – apresentação dos personagens e seus dramas -, já é uma pequena pérola no meio da mesmice do cinemão americano. O centro da narrativa está na música cantada por Gretta, que encanta Dan, gancho usado para contar a história do protagonista até o momento em que ouve a canção dela, reapresentada pela segunda vez no filme – porém, dessa vez ouvimos o que ele ouviu e entendemos o potencial daquela música e por que ele ficou tão impressionado.

O filme é cheio desses pequenos trunfos, uns óbvios e outros mais discretos. No primeiro tipo estão, claro, a química entre os atores, especialmente entre Knightley e Ruffalo, e a forma como o diretor John Carney usa as canções para dar andamento na narrativa. O mesmo vale para como ele usa a cidade para adornar a história, transformando Nova York em parte da produção musical – literalmente.

Carney possui uma elegância ímpar, usando esses pequenos arroubos de genialidade ao longo de todo o filme, sem chamar atenção para eles, como fazem Quentin Tarantino ou os roteiros de Guillermo Arriaga – ainda que justificadamente. O resultado fica claro, mesmo que discreto, em cenas delicadas, como a que Dan e Gretta passeiam pelo centro de Nova York ouvindo as canções potencialmente embaraçosas que estão nas listas de seus celulares. Ou quando ela descobre que Dave a traiu quando ouve uma nova composição dele.

Há uma grande evolução na maneira em que ele estrutura seu roteiro. Isso por que, em certo sentido, Mesmo Se Nada Der Certo funciona como uma continuação espiritual para Once – Apenas Uma Vez, filme que colocou Carney no mapa. A produção acompanhava dois músicos que gravavam um disco demo em Dublin, com a narrativa costurada pelas ótimas baladas folk de Glen Hansard, que fez as vezes de ator. É como se os dois músicos irlandeses fossem agora representados por Gretta e Dave, que levam a história adiante.

Todos esses detalhes deixam claro que não se trata de uma comédia romântica comum. Não é um típico garoto-encontra-garota, ainda que haja, aqui e ali, alguma tensão romântica entre Ruffalo e Knightley. A história é sobre música, em sua essência mais profunda. E se a música pop é feita a partir de diversos encontros e desencontros da vida, assim como as grandes comédias românticas, Mesmo Se Nada Der Certo acaba sendo também sobre isso.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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