“O Ataque” é cinema de ação despreocupado e bem feito

O maior elogio possível a “O Ataque” é definí-lo como uma espécie de “Duro de Matar na Casa Branca”. Isso porque boa parte das melhores características do clássico de Bruce Willis estão aqui presentes. E são justamente elas que fazem com que “O Ataque” paire ligeiramente acima da média do cinema de ação descerebrado hollywoodiano. Mas apenas ligeiramente.

Aqui Channing Tatum faz John Cale, ex-militar que está tentando um emprego no Serviço Secreto, o grupo que faz a segurança pessoal do Presidente dos EUA, que, por sua vez, acabou de anunciar um audacioso plano para retirada de tropas do Oriente Médio. E aí a Casa Branca é invadida por um grupo terrorista, deixando Cale como a única coisa entre eles e o Presidente Sawyer, papel de Jamie Foxx, alvo final deles. Tudo, claro, cheio de pequenas reviravoltas e surpresas.

As maiores qualidades do filme ficam nas costas de Tatum. E é aí que cabem as comparações elogiosas com o primeiro “Duro de Matar”. Assim como o McClane de Willis, Cale não está interessado em salvar o dia. Ele faz o que precisa fazer e seu objetivo é dar o pé de lá na primeira oportunidade que tiver, de preferência com sua filha pré-adolescente, interpretada por Joey King, principal motivo dele seguir enfiado na Casa Branca sitiada.

Ele não é, claro, a única coisa boa do elenco. Considerando que é um blockbuster, o nível dos atores é consideravelmente alto. Desde a pequena Joey – criança prodígio com cada vez mais destaque e méritos – até veteranos como James Woods e Richard Jenkins. Fora Maggie Gyllenhaall, Jason Clark, ou o já citado Foxx. Todos decidiram investir na construção de personagens críveis, o que ajuda ao espectador mergulhar na trama – que, sejamos justos, nunca chega a exigir fé demais da nossa parte.

Roland Emerich é um diretor com notório apreço por explodir coisas, e em “O Ataque” a coisa não é muito diferente. Nada, claro, na escala global de destruição que ele vinha se dedicando em seus últimos trabalhos – “2012″ e “O Dia Depois de Amanhã”. Mas fica a piada dessa ser a segunda vez que ele se volta para a Casa Branca (a primeira foi na icônica cena de “Independence Day”). Deve ser algum fetiche, ou algo do gênero.

Ainda assim, ele está anos-luz, em termos de elegância cinematográfica, em relação a um, digamos, Michael Bay. O filme trabalha muito bem seu ritmo e andamento, sabendo as horas de colocar suas cenas de ação e de alterná-las com outras sensações como tensão ou preocupação. Tudo arquitetado para ir nos direcionando ao clímax, que se não é tão espetacular quando poderia ou deveria ser, quebra o galho ao menos.

Por outro lado, é um filme americano que se passa na Casa Branca e cujo o mote é a proteção do presidente. Isso pode ser indigesto para quem não gosta de ter propaganda ufanista empurrada goela abaixo. Exemplo supremo é a forma como o Presidente Sawyer é retratado. Nunca um país teve um líder, ao mesmo tempo, tão carismático, esclarecido e humanista. Mais do que as explosões e a história de como um homem sozinho salva o mundo da guerra nuclear iminente, talvez seja justamente essa a parte mais difícil de engolir.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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