“O Impossível” conta história real de sobrevivência ao tsunami

“O Impossível” conta história real de sobrevivência ao tsunami

As cenas que envolvem o horror e desespero do tsunami em “O Impossível” já são angustiantes o bastante por si mesmas. Mas acabam potencializadas por todo o tempo que o diretor, Juan Antonio Bayona, dedica a mostrar a felicidade de todos que estavam curtindo suas férias por lá. Especialmente da família protagonista, encabeçada por Ewan McGregor e Naomie Watts, além dos três filhos. É quase meia hora de projeção focada em como essa família é unida e está feliz de poder passar um tempo juntos, em um lugar paradisíaco. Mostrar a interrupção de toda essa felicidade é o que potencializa a sensação de angústia quando a família é separada pela força da natureza.

Já no começo do filme Bayona estampa o “baseado em fatos reais” em uma tela preta. Como quem já se defende das possíveis acusações de que o enredo talvez tenha coincidências demais. Depois disso, para o diretor, é tudo uma questão de ter calma. Especialmente para a construção dos personagens. É muito importante que vejamos o quanto as crianças são irritantes ou medrosas, pelo simples fato de serem crianças, ou o quanto a mãe se assusta por pouca coisa, como uma turbulência durante o voo. Tudo isso porque o filme não é sobre como as pessoas reagem diante das pequenas coisas do dia a dia. O filme é sobre como as pessoas reagem diante de uma catástrofe sem precedentes.

E mostrar essa reação extrema dos personagens só é possível se a atuação for convincente, porque, caso contrário, eles pareceriam personagens completamente diferentes antes e depois do tsunami.McGregor e Naomi se entregam à dor e ao sofrimento de uma forma que não pode ser descrita com outra palavra que não visceral. Tanto para mostrar o que os personagens estão sentido, quanto para o trabalho de corpo, que envolve mostrar a dor dos ferimentos. E em um mundo povoado por filmes em que o mocinho toma um tiro e ainda consegue correr normalmente, é um alívio (do ponto de vista cinematográfico), ver o esforço que envolve cada passo quando se está com a perna cortada.

E, assim como nas atuações, Bayona não economiza na hiperrealidade que envolve a produção. Cada ferida, cada hematoma, é mostrado sem reservas. Mas a câmera, diferente de um eventual filme de horror (como “O Albergue”), não fetichisa o ferimento. Ele está lá como um objeto de cena, compondo todo aparato visual necessário para que tenhamos ideia do que foi passar por tudo aquilo. Não que isso torne mais fácil para o espectador olhar para os ferimentos na tela grande.

Além da maquiagem (que, por algum motivo bizarro, não está pré-indicada ao Oscar, apesar de ser incrível), o realismo é extremo com as imagens do tsunami. Elas acabam sendo as mais impressionantes e que, justamente por isso, são usadas, em um belo flashback metafórico, no clímax do filme. De resto, fica o excelente trabalho de direção de arte, que reconstrói todo o caos deixado para trás pelo tsunami. O que não é pouco.

A verdade é que, com todo esse realismo, alguns podem estranhar a escolha de Bayona por um elenco central de ingleses ao invés de manter os espanhóis, como era a família na história real. A crítica é válida. Mas não custa pensar que caso nomes como os de Naomi e McGreggor não estivessem envolvidos, esse filme, que parece tão necessário para fins de colocar em perspectiva o que realmente importa, talvez não tivesse chegado tão longe assim.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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