“Os Estagiários” só faz graça por conta de Vaughn e Wilson

Não é nem que “Os Estagiários” seja ruim, exatamente. É um filme simpático e dá para rir bastante em várias partes. O problema é que ele promete – pela simples reunião entre Vince Vaughn e Owen Wilson – mais do que entrega. E, infelizmente, os clichês do roteiro absolutamente genérico não ajudam em nada, fazendo com que a química entre os dois atores seja a única coisa a sustentar duas horas de projeção. E talvez até seja suficiente, mesmo.

Na reunião, Vaughn e Wilson fazem dois amigos de infância que seguem trabalhando juntos até hoje. Ou seguiam, já que eles vendiam relógios para grandes lojas, que agora não estão mais interessados no produto – o que configura a metáfora mais sutil do filme. Com o fantasma do desemprego os assombrando, eles resolvem se inscrever no programa de estágio do Google e, contra todas as possibilidades, são aceitos.

É aí que começam as sequências de lugares-comuns que são incômodos na medida em que você é mais ou menos exigente em relação à comédias. Isso porque o programa de estágio separa os aplicantes em grupos que irão disputar as vagas. Os dois protagonistas ficam com os marginais, que ninguém mais quis escolher, e rapidamente começam a ser antagonizados por um dos melhores concorrentes – Max Minghella, que defende o único personagem minimamente desenvolvido, fora a dupla central.

Você já viu esse filme. É o do grupo de perdedores que se antagonizam e, ao aprender uns sobre os outros e o valor do trabalho em equipe, acabam ganhando uma chance real de vitória. Mas não sem antes tudo ser colocado em risco por uma artimanha do antagonista ou pela falta de confiança em si mesmos, pouco antes do desafio final – e eu suponho que dizer que há algum tipo de spoiler nesse parágrafo seria ofender a inteligência do caro leitor, que irá notar esses clichês assim que o filme começar. O próprio Vaughn já tinha protagonizado uma comédia com esse mote: “Com a Bola Toda”, de 2004.

Ao mesmo tempo, há a preguiça do roteiro de se ater ao “panela velha é que faz comida boa”, insistindo no discurso fácil de que os jovens ficam tempo demais com a cara enfiada em telas e já não sabem mais se relacionar com outras pessoas. Não há nada de errado nas lições dos mais velhos e sábios. Mas quando se ambienta um filme na sede do Google, empresa que revolucionou a forma como lidamos com informação, era de se esperar um pouco mais de respeito ao novo ou ao virtual.

Ao se apegar a esses lugares-comuns narrativos, “Os Estagiários”, para fins de comparação, deixam escapar a chance de ser uma comédia realmente relevante – como “Penetras Bons de Bico”, primeira e ótima parceria entre Vaughn e Wilson, que tinha muito mais do que a química entre os dois para oferecer. Chance abraçada por “Universidade Monstros”, por exemplo, que usa a exata mesma base de roteiro – de equipes rivais em uma disputa improvável – para subverter essa lógica. E o faz com muito louvor.

Como disse lá nos primeiros parágrafos, o que segura o filme é o entrosamento de Vaungh e Wilson. É bem difícil saber o que é improviso e o que está roteirizado. Especialmente quando eles começam com o tom professoral ou motivacional de seus discursos de vendas, com frases de efeito e referências vintage-pop disparadas como metralhadoras. No mundo ideal, a coisa seria contrabalanceada com os coadjuvantes, especialmente os colegas de equipe deles. Uma pena que eles estão lá mais como enfeite do que como artifício narrativo.

O descaso com os personagens secundários é tão grande que, ao final do filme, se pergunte: “o que aconteceu com a esposa do personagem de Vince Vaughn?”

Publicado originalmente no Portal POP.

Sobre o autor Veja todos os posts

Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *