“Poder Paranormal” ofende a inteligência do espectador

“Poder Paranormal” quase ofende a inteligência do espectador

Sabe aquele tipo de filme que promete muito, buscando construir uma cadeia de fatos e eventos que vão culminar em uma profunda quebra de expectativa? “Poder Paranormal” não é desses. Na verdade, “Poder Paranormal” tem um andamento tão descuidado e uma “surpresa final” tão safada, que até M. Night Shayamalan teria vergonha. E olha que Shayamalan já se colocou em um filme como o cara que salvaria o mundo através de uma obra de ficção.

Na trama, Margareth e Tom, papéis de Sigourney Weaver e Cillian Murphy, respectivamente, são dois investigadores paranormais. A formação dela não é dita, ainda que seja tratada por doutora (não advogado ou médico, mas alguém que fez doutorado), enquanto ele é doutor em física. Eles dividem seu tempo entre expor fraudes paranormais e dar aulas em uma universidade. Tudo vai relativamente bem até o retorno de Simon Silver, papel de Robert De Niro, um suposto vidente que jamais foi flagrado.

Já na primeira cena: Sigourney dorme com a cabeça encostada no vidro, enquanto Murphy dirige por uma estrada. Ele a chama, repetidas vezes, até que ela acorda. Tudo para dizer: “Você precisa dormir um pouco”. E não, não é uma piada. Fica difícil levar o que vem depois a sério.

Daí para frente o filme não melhora muita coisa. A trilha, os cortes, a fotografia e os atores forçam a barra para criar um clima de suspense e mistério que, na verdade, não existe. Elementos assim são jogados ao léu, sem função narrativa clara, ou atrapalhando a intenção de suspense. É como se o roteirista-produtor-diretor Rodrigo Cortés, de “Enterrado Vivo, não soubesse colocar as coisas na ordem correta para criar a sensação de angústia esperada em um suspense. Causa, ao contrário, mais estranhamento, dando aquela ideia de “acho que eu deveria ter me assustado aqui”.

Os problemas começam no roteiro, e bem antes da já citada supresa do final (que só é surpreendente na medida em que não faz muito sentido). Como o envolvimento de Tom com a estudante Sally Owen, papel de Elizabeth Olsen, a mais talentosa das irmãs, que simplesmente não tem função narrativa. O filme seria o mesmo sem ela. Ou a personalidade, que muda completamente na metade da projeção, e as decisões, estúpidas a ponto de deixar um estagiário tentando descobrir a coisa mais importante, de Tom. Bem, talvez o problema do filme seja Tom, apesar de Murphy ser o ator mais esforçado do longa.

Mas mesmo o trabalho de Murphy, ou até a tentativa de Sigourney criar um personagem dramático, não ajudam a aturar o longa. Isso para nem começar a falar na cara abobada de De Niro, que já está devendo um filme decente desde “Ronin”, e já se vão uns 15 anos nisso aí. Seu Simon Silver não é diferente de qualquer outro de seus personagens nos últimos dez anos, incluindo aí o capitão de navio pirata gay em “Stardust”, o que é um pouco decepcionante considerando sua trajetória.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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