“Tá Chovendo Hambúrguer 2″ não supera a graça e diversão do primeiro

O mal das continuações não-planejadas assombra “Tá Chovendo Hambúrguer 2″. O primeiro foi um sucesso, em parte, inesperado. Mas a verdade é que sempre teve tudo para dar certo: personagens carismáticos, arcos de aprendizado edificantes, aventuras e um mundo colorido e divertido. A sequência, porém, faz aquela besteira de querer ser mais do que o primeiro; subir a um novo patamar; essas coisas.

Depois de uma rápida recapitulação do que aconteceu no primeiro filme, vemos que toda a população da ilha é removida para uma cidade que de forma alguma é San Francisco. Flint é incentivado a deixar o sonho de ter um laboratório com seus amigos por uma chance na Live Corp, empresa criada pelo seu ídolo, Chester V. Uma vez lá, acaba recebendo a missão de voltar para a sua ilha natal, só para descobrir que sua máquina, que antes apenas transformava água em comida, não apenas segue ativada, como, agora, cria animais feitos de alimentos (sei que, no limite, uma vaca é feita de comida, mas a coisa aqui é mais literal).

Os primeiros vinte minutos de filme são um primor. Ágeis e bem editados, com uma sequência matadora de piadas que mal dão tempo para respirar. Mas logo depois da convenção da Live Corp, que pode ou não dar uma promoção pra Flint, o ritmo cai e não volta a subir nunca mais. Arrisco a dizer que, se você não estiver bem descansado, vai ser difícil não se render a um cochilo. Não colaboram para isso os arcos dramáticos entre Flint e seu pai ou entre ele e seus amigos, preteridos diante de Chester V.

Isso não quer dizer que o filme não tenha lá suas qualidades. Os personagens continuam divertidos, e, ainda que sejam bem pouco explorados, especialmente em relação ao primeiro, rendem alguns bons momentos. Mas fica a sensação – ruim – de que o motivo básico para a existência desse filme é mais mercadológica, e os bichos-comida, que já aparecem batizados no filme, vão servir apenas para vender brinquedos, do que narrativa.

Mas dá para se divertir bastante com algumas homenagens, que vão desde “A Pequena Loja dos Horrores” até a “Jurassic Park”. Esse último está lá em espírito o tempo todo, nos enquadramentos, planos e na forma como os comidanimais vão aparecendo ao longo do filme.

Com um filme tão mediano, é até engraçado que Sony Pictures Animation resolva, através dele, provocar (ou declarar guerra mesmo) para a Pixar. Afinal, Chester V. não é mais do que uma paródia do falecido Steve Jobs, patrono e único acionista pessoa física da animadora que hoje está comprada pela Disney. Não é nenhuma maluquice conspiratória enxergar a provocação que há nisso, considerando que é ele o vilão do filme.

O que sobra é a necessidade de lições de moral, que são forçadas na narrativa de um jeito meio frouxo. Mas tudo bem, “não renegue seus amigos” e “não julgue ninguém pela aparência” são lições importantes para as crianças (e alguns adultos).

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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