“Terremoto: A Falha de San Andreas”

Logo no início do filme, pouco antes daquela famigerada cena de ação que tem a função de mostrar a habilidade do time de socorristas, uma repórter grava uma matéria sobre eles. Ela pergunta para Ray, o personagem de Dwayne Johnson, ainda de costas, sobre seu impressionante recorde de mais de 600 salvamentos bem-sucedidos, entre o Afeganistão e a carreira civil. Ele, que estava ocupado pilotando o helicóptero, se vira e com a luz do sol formando uma espécie de coroa dourada a seu redor, diz: “Estou apenas fazendo meu trabalho”. “Terremoto: A Falha de San Andreas” é esse tipo de filme.

A abertura engana o espectador com o resgate impossível de uma moça que comete todo tipo de erro no trânsito (como olhar o celular enquanto dirige ou tentar alcançar a bolsa sem olhar para a frente em uma estrada sinuosa) mas sofre o acidente por causa de um deslizamento de terra. E o que prometia ser um filme sobre uma equipe de resgates fazendo manobras alucinadas para salvar o maior número de pessoas possível, logo se torna um drama familiar. Afinal, quando o maior terremoto já registrado na história desloca as placas tectônicas da falha de San Andreas, na Califórnia, tudo o que Ray quer é colocar sua família em segurança.

Em paralelo, acompanhamos o grupo de sismólogos, liderado por Lawrence (Paul Giamatti), que acabou de descobrir uma forma de prever os terremotos. Assim que começam os tremores, eles detectam a chegada de outro ainda maior e precisam avisar a todos. Na verdade, apesar de render algumas cenas bacanas, eles só estão ali para explicar o que está acontecendo para quem vê o filme. O foco está em Ray e sua família.

O drama familiar é até bem montado, por incrível que pareça, considerando que, de novo, é esse tipo de filme. Preste atenção em como somos informados de que Ray está divorciado e que perdeu sua filha mais nova em um acidente trágico: sua outra filha, Blake (Alexandra Daddario), liga pedindo uma chave; ele então convida Blake e a mãe, Emma (Carla Gugino), para sair, mas logo descobre que elas já têm planos com o novo namorado/padrasto, Daniel (Ioan Gruffudd); em seguida, Ray vai buscar a tal chave e abre uma caixa no quarto da jovem onde ela guarda fotos da irmã.

A sequência é de uma sutileza incomum no cinemão hollywoodiano, por isso, é tão bem-vinda. Ao mesmo tempo, se destaca tanto que acaba por piorar muito as cenas trabalhadas com menos empenho, como a de Daniel conversando com Blake em seu jatinho. Mas acabamos perdoando tudo, já que o negócio aqui é mostrar toda a Califórnia tremendo em uma onda de destruição que só se compara à produzida pelo Godzilla e os outros dois monstros no último filme. E, por mais que as intervenções de computação gráfica sejam um tanto óbvias, as imagens são bem impressionantes. Especialmente pela coragem de mostrar tudo acontecendo durante o dia, sem o conforto das sombras para mascarar um eventual erro.

Claro, o drama e o terremoto são interdependentes. Hollywood sabe que não conseguiria arrastar multidões para um filme sem mostrar Los Angeles e São Francisco serem engolidas por um terremoto. Ao mesmo tempo, a bilheteria para um drama familiar com Dwayne Johnson e Carla Gugino não seria muito impressionante. É a combinação dos elementos dramáticos com as cenas de ação que nos mantém sentados na poltrona do cinema.

Para a sorte do longa, o protagonista é Johnson, o único ator entre todos os fortões do cinema que consegue sustentar uma cena dramática e ainda convencer em uma sequência de ação. O momento em que ele finalmente se abre para Emma sobre o trauma de perder a filha, logo ele, um especialista em salvamentos que devolveu centenas de filhas para suas famílias, é tocante de verdade. Não dá para imaginar Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger ou mesmo Vin Diesel interpretando ter passado por isso. Seria mais engraçado do que trágico.

“Terremoto: A Falha de San Adreas” termina como começa. Diante de toda a destruição, um personagem pergunta o que eles farão agora. “Agora?”, responde o outro, “nós reconstruímos”, o que é mostrado logo depois de uma bandeira americana digital sendo estendida e com uma emocionante trilha sonora que sobe antes dos créditos. Por que, afinal de contas, é esse tipo de filme.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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