Tim Maia

Tim Maia

Em certo sentido Tim Maia reflete bem o espírito do biografado. Quando vai bem é incrível – podemos sentir o ímpeto criativo e o gingado do cantor, participamos das festas que não acabam e nos divertimos como nunca junto daquele gordo negão cheio de suingue que tem uma resposta pronta para tudo – mas quando afunda é um desespero. Um vale de lágrimas tão cruel com ele quanto com quem assiste. O resultado é tão errático e inconstante quanto o próprio Sebastião Maia. Se não faz jus ao seu gênio, pelo menos nos brinda com alguns belos momentos.

O filme comete o erro de tentar dar conta de toda a vida de Tim, da infância à morte precoce (mas não totalmente inesperada, considerando o estilo de vida). O que faz com que cada uma das metades pudesse se tornar um filme independente com objetivos próprios. Na primeira, interpretado por Robson Nunes, acompanhamos os anos de formação, o nascimento do interesse por música, a formação do The Sputniks, a briga com Roberto Carlos (George Sauma, parecendo uma imitação do Hermes e Renato de tão caricato), a ida para os EUA, a prisão, a volta para o Brasil, a ida para São Paulo e a gravação do primeiro disco, um sucesso imediato.

Tudo isso é muito interessante, mas é na segunda metade que o filme ganha vida de fato. Não só (mas também) pela interpretação meio bêbada e cheia de galhofa de Babu Santana, e principalmente pelo fato de esse ser o período mais folclórico da vida de Tim. É aí que ele tem dinheiro, mulheres e sucesso. É quando acontece a mítica viagem à Londres, a vitamina da madrugada, a fase Racional, o nascimento dos filhos e o mergulho nas drogas que o deixou paranoico e quase morto antes da hora.

A trama é mal costurada pela narração de Cauã Reymond, que interpreta Fábio, músico que acompanhou Tim em praticamente toda a sua vida adulta. Além de acrescentar bem pouco para o filme, essas falas beiram o piegas, destoando do tom cool que é adotado por praticamente todas as outras decisões estéticas. A começar pela ótima direção de arte, que propõe um mergulho nos anos 60, 70 e 80 do Brasil. Acompanhamos até algo das transformações políticas, mas de forma bem distante. Afinal o próprio Tim foi bem pouco afetado pela ditadura.

Se Tim Maia funciona, em alguma medida, é muito mais pelos dois atores que pela força do roteiro. Ou, ainda, pela força das histórias e pelo ímpeto criativo do próprio Tim, algo que transborda para o filme através de Nunes e Santana. O desafio é enorme, do tamanho do próprio biografado. Afinal é preciso dar coerência para uma figura que é ao mesmo tempo absolutamente simpática e abjeta, com pouco espaço para transições e processos graduais. Como se isso já fosse pouco, tiveram que fazer de forma a não criar ruído de um para o outro.

O filme se equilibra, enfim, em um empate técnico que é desagradável. Um filme sobre Tim Maia precisa causar algum tipo de impacto. E é ele próprio quem salva o filme da mesmice, fazendo o que faz de melhor: música. Por que não tem produção que não fique muito melhor com canções como Gostava Tanto de Você, ou Coroné Antônio Bento, ou Você e Eu, Eu e Você (Juntinhos), ou… Bem a ideia é essa.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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