“Toque de Mestre” cria tensão narrativa em concerto de música clássica

Toque de Mestre

A premissa de “Toque de Mestre” deve ser uma das mais originais que vamos ver nos cinemas este ano. A execução, por outro lado, se equilibra em uma mistura de erros e acertos. Porém, o resultado acaba saindo melhor do que a encomenda, para todos os fins. Mérito de uma conjunção de fatores que vão desde um roteiro afinado a uma edição com bom ritmo, passando por um ator central muito concentrado.

O foco é em Tom Selznick, um pianista vivido por Elijah Wood que está de volta aos palcos depois de cinco anos – ausência motivada por ter travado na hora de executar uma peça quase impossível, a famigerada “La Quintete”. No meio do show, escrito em sua partitura, está o aviso: ele ou sua bela esposa tomarão um tiro na testa caso uma única nota seja tocada errada. E sim, ele terá que tocar a tal música quase impossível, obrigatoriamente.

O que se segue é um desafio de roteiro de manter a tensão narrativa e o interesse do espectador ao longo de todo o tempo. O que sustenta são os diálogos entre Tom e o assassino, vivido por John Cusack, que conhecemos apenas pela voz – criando uma espécie de “anti-Ela” – e as tentativas do músico de escapar da armadilha.

O que se desenha é um jogo de poder e interesse que vai passando de mãos. Infelizmente, a coisa vai perdendo um pouco de força à medida em que descobrimos mais sobre as verdadeiras intensões por trás do sequestro. O simples fato de haver uma razão diminui um pouco a ameaça, mas também é necessário para que Tom possa ter uma carta na manga.

Ainda assim, o roteiro de Damien Chazelle é bem redondo. Mais que isso. Esperto, até, considerando, por exemplo, como diversos elementos da primeira metade funcionam como piscadelas de olho para o que acontecerá no desfecho – Tom diz, por exemplo, para um personagem: “você salvou a minha vida”. Pode-se argumentar que o texto seja auto-indulgente. Mas não é o caso. “Toque de Mestre” apenas sabe exatamente quando não se levar a sério.

Ainda entre os acertos, está a escolha da trilha, executada pelo personagem em `tempo real`. Assim, as partes mais tensas do longa são, justamente, as das composições mais difíceis de serem executadas. O que faz o personagem, e nós espectadores, ficarmos naturalmente apreensivos. Nesse sentido, boa parte do mérito é de Wood, ator cheio de recursos e, em geral, subestimado. Sua dedicação vai desde ter aprendido a tocar várias das músicas (em poucas semanas) até o mergulho nas frustrações de Tom. É um balanço bem difícil de ser alcançado.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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