Comecemos pelo começo: Batman é uma criação do desenhista Bob Kane e do escritor Bill Finger em 1932. Profundamente inspirado no Zorro (rico, identidade de playboy, treinamento, habilidades de detetive, roupa preta com capa), além de um ou outro toque das pulp fictions (“O Sombra”, mais notadamente), as histórias começaram a ser publicadas na Detective Comics. De lá para cá, pouca coisa mudou no conceito basico do personagem: Bruce Wayne é um milionário, filantropo que possui uma vida dupla como o Cruzado de Capa, tudo porque, ainda criança, ele viu seus pais serem assassinados, lhe conferindo um misto de senso de justiça e sede de vingança.
Mesmo com as mais diferentes encarnações, reformulações e designs, o personagem foi ficando mais e mais popular ao longo dos anos, chegando até, nos anos 60, a ganhar uma série em live-action. Que é o ponto deste breve artigo, já que, ainda que seja pouco conhecida, a série acabou gerando um longa-metragem (além de dezenas de paródias e brincadeiras, como a seminal para internet brasileira “Batman, Feira da Fruta”, na qual os personagens foram redublados, basicamente, trocando entre si ofensas, xingamentos e palavrões).
A série, e, logo, o filme, foi estrelada por Adam West, como o Batman, e Burt Ward, como Robin. Tudo parecia montado mais para fazer rir do que para ser levado a sério. O Comissário Gordon, para começo de conversa, parecia não delegar aos seus policiais nenhum caso, chamando o Batman, através do telefone vermelho, até para assalto de padaria.
West ostentava uma barriguinha saliente na malha apertada e o símbolo escorregava para quase a altura do umbigo. A capa mal passava da altura do joelho, não apresentando função alguma. Isso para nem começar a falar do Robin de sunga e pernas de fora.
“Batman”, a série clássica, foi criada já profundamente influenciada pela “A Sedução do Inocente”, livro do pisicólogo Fredric Wertham, publicado em 54, acusando a maior parte dos quadrinhos de perverter os jovens através de linguagem subliminar. Foi um baque geral na indústria mas poucos personagens sofreram tanto quanto Batman. E o pior é que as mudanças no personagem vieram para aumentar a conotação homo-erótica apontada por Wertham.
Por isso, entre o rol de personagens da série estiveram personagens como a Tia Harriet de Bruce Wayne, que morava com eles (porque dois solteirões não deveriam morar sozinhos com um mordomo), e o Batman frequentemente flertava com a Batgirl, ou com a Mulher-Gato, interpretadas pela belas Yvonne Craig e Julie Newmar.
No filme de 66 (e finalmente chegamos a ele), porém, quem assume a roupa de couro da Mulher-Gato foi Lee Meriwether. Na “trama”, os vilões compostos pelo Coringa (interpretado pelo grande Cesar Romero), Pinguim (o eterno Burgess Meredith), Charada (o ligeiramente menos notório Frank Gorshin), além da já citada Mulher-Gato, se unem em um plano para acabar de vez com a dupla-dinâmica, usando uma espécie de superdesidratador, que transforma humanos em pó. É nesse filme que o Batman usa o impagável ‘bat-repelente de tubarão’, além dos clássicos escudos à prova de balas que ficam escondidos sabe-se lá onde.
O ponto é que ninguém levava esse Batman a sério basicamente porque ninguém levava personagens de quadrinhos a sério. Essa situação mudou apenas na década de 80, com a publicação de “O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller (reforçado, depois, por “A Piada Mortal”, de Alan Moore, e “Batman: Ano Um”, também de Miller). Uma história complexa, adulta e coerente foi o suficiente para que até mesmo os desenhos animados do personagem mudassem radicalmente. É só dar uma olhada na sensacional animação do personagem dos anos 90 (simplesmente, “O Batman”).
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Publicado originalmente no Portal POP.