O texto é longo e cheio de spoilers.
Eis mais um episódio em que o título norteia boa parte das sequências. Não há nenhuma revelação chocante, como no final dos dois últimos capítulos, mas alguns bons diálogos e a consonância temática em relação à ideia de “quebra de juramento” garantiram a qualidade geral. É esta preocupação que ajuda a manter a coerência em uma série que está tão fragmentada em linhas narrativas que não se cruzarão até pelo menos a metade desta temporada.
A grande quebra de juramento, claro, é a de Jon Snow (Kit Harrington), que encerra o episódio deixando para trás não apenas o manto de Lorde Comandante da Patrulha da Noite como também seu voto de dedicar sua vida aos “irmãos de preto”. Mesmo esta sendo uma grande mudança para um personagem que desde muito jovem quis ir morar em Castle Black, ela faz sentido, considerando que este era um compromisso até a morte e isto ele cumpriu. Seu renascimento o liberta dos compromissos em um sentido que fica mais claro em oposição aos dramas vividos por outros personagens. O que talvez seja uma dica de que o grande salvador de Westeros seja aquele que transcender as convenções sociais mundanas.
Como Jon Snow testemunhou o nada que há depois da morte, não vê mais sentido em se manter fiel a costumes arbitrários. Exatamente como os que estão aprisionando Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), obrigada a se recolher junto de outras viúvas Dothraki. Ou ainda como a questão religiosa, dogmática e moralista, da Fé Militante, tem pautado as relações de poder em King’s Landing – está cada vez mais claro, inclusive, que o High Sparrow (Jonathan Pryce) não possui uma agenda, acreditando fielmente estar cumprindo as determinações divinas, o que o faz ainda mais perigoso.
Este discurso ressoa também no treinamento de Arya Stark (Maisie Williams). Só quando abandona seu nome – ou seja, a construção social que define sua personalidade – é que ela se torna capaz de abraçar seu novo destino como uma assassina de mil faces. Assim como Jon Snow, Arya também precisou morrer para renascer novamente em uma nova forma, o que envolve a compreensão de que sua vingança pessoal é menor dentro de um mundo mais complexo do que sua mente infantil acreditava anteriormente. Foi preciso enxergar sem os olhos para que ela pudesse perceber o movimento do mundo. O treinamento, afinal, também funciona de forma metafórica.
Outras quebras de juramento não tiveram um impacto tão profundo, ou, ao menos, não foram tão cínicas quanto estas outras. Nos reencontramos, por exemplo, com Samwell Tarly e Gilly (John Bradley e Hannah Murray) em um navio. É um dos respiros de humor dentro de um episódio carregado. Ele quebra seu voto de ir onde quer que sua amada for, mas só para se declarar novamente, buscando a proteção dela e do pequeno Sam. O outro envolve Tyrion Lannister (Peter Dinklage) tentando conversar com Grey Worm e Missandei (Jacob Anderson e Nathalie Emmanuel).
Tudo indica, porém, que há um juramento que deverá ser mantido. Melisandre (Carice van Houten) viu Jon Snow liderando um ataque à Winterfell, agora dominada por Ramsay Bolton (Iwan Rheon), que, por sua vez, deverá atacar os Selvagens para manter as alianças com os outros lordes do Norte – uma cena que remete diretamente à quebra de juramento que levou ao Casamento Vermelho. Os mesmos Selvagens que estarão sob a proteção de Jon Snow agora que ele deixou Castle Black para trás.
Com Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright) aprendendo o que deverá ser a verdade sobre a origem de Jon Snow; Rickon Stark (Art Parkinson) prisioneiro de Ramsay em Winterfell; e Sansa Stark (Sophie Turner) se dirigindo para Castle Black, não é difícil adivinhar o que deverá acontecer no clímax desta temporada. Uma enorme batalha que iniciará a consagração de Jon Snow como Protetor do Norte, Lord de Winterfell. Mas, como tudo em Game of Thrones, não há garantias e, mesmo se acontecer, não será sem algumas perdas.