O texto é longo e cheio de spoilers.
Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) ressurge mais poderosa do que nunca neste quarto episódio da sexta temporada de Game of Thrones. Não apenas pela sua vitória triunfal diante do obscurantismo e tradições Dothraki, mas pela habilidade com que seu mais novo aliado, Tyrion Lannister (Peter Dinklage), lidou com a crise dos escravos em Meereen durante sua ausência. A Mãe dos Dragões reafirmou seu dom como conquistadora – em um paralelo diretamente ligado ao final da primeira temporada – ao mesmo tempo em que, através do conselheiro, ganhou o que lhe faltava: articulação política.
No fundo este é o grande embate dentro do universo de Game of Thrones. Toda a turbulência se dá pelo fato de que os governantes são melhores em chegar ao poder do que em mantê-lo. Para isso é preciso agradar aos nobres e ricos e também ao povo, uma combinação complexa que tende ao fracasso tanto em Westeros como no mundo real. Note como este tema se repetiu neste episódio: a proteção de Jon Snow (Kit Harrington) aos Selvagens sendo usada como desculpa para insuflar os lordes do Norte; o apoio popular à Fé Militante que segue desafiando o Trono de Ferro; ex-escravos e seus ex-mestres em Meeren; e, claro, o machismo Dothraki.
O tema do conflito de classes costura toda a série desde a temporada passada, mas encontrou um certo protagonismo neste episódio em específico. Não por acaso ele foi batizado de Book of the Stranger, um dos códices centrais da Fé Militante que ganha contornos no revelador diálogo entre o High Sparrow (Jonathan Pryce) e Margaery Tyrell (Natalie Dormer). O líder religioso confunde sua própria história com uma das parábolas do livro, se colocando como um plebeu de origem humilde cuja ambição o elevou aos altos círculos até que um dia enxergou a podridão daquela sociedade. Enojado, juntou-se aos mais pobres pavimentando dali seu caminho pela fé.
High Sparrow, apesar de ser um claro representante do clamor moralista plebeu de Westeros, vê-se não apenas como a encarnação do conflito de classes como também a única resposta possível: humildade e penitência diante do que ele considera ser uma vida pecaminosa. O resultado disso é o fanatismo que impregna a população de King’s Landing contra os lascivos e cruéis Lannisters e Tyrels, atuais ocupantes do Trono de Ferro, que, por sua vez, já tramam uma abordagem violenta para a questão. Voltamos então ao que torna Daenerys mais poderosa e seus rivais mais fracos – especialmente por estes mesmos rivais terem alienado e hostilizado Tyrion, seu melhor articulador.
O ponto é que cada um dessas linhas está entrando em seu ponto de ebulição. Em breve o exército Tyrell irá enfrentar a Fé Militante e Jon Snow liderará os selvagens – talvez com a ajuda de Petyr Baelish (Aidan Gillen) – contra os Bolton em Winterfell, ao mesmo tempo em que as Ilhas de Ferro começam se consolidar como uma potência própria. A resposta para a pergunta de “quem irá vencer o Jogo dos Tronos?” deverá surgir, então, de como Daenerys irá lidar com a questão dos escravos, especialmente agora que está diante de mais um poderoso exército, os Dothraki. Sua estratégia de conquista e imposição de novos modos se revelou um fracasso no instante em que deixou a cidade conquistada para trás, questão que será enfrentada pelos outros conquistadores.
Difícil não pensar que os próximos episódios terão mais ação, se alternando entre os três grandes focos. Começando por King’s Landing já no próximo capítulo e depois partindo para Winterfell e Meereen, usando as tramas paralelas de Dorne, Braavos e Ilhas de Ferro para aliviar a tensão. E, não custa lembrar, o vencedor sobre os escombros de Westeros ainda terá de encarar os White Walkers. Um mundo de horror aguarda estes pobres personagens.