“Charme” é um conceito difícil de ser definido ou apreendido. Há uma série de fatores ou truques que nos fazem chegar perto dele ou mesmo enganam por algum tempo. Mas sabemos de cara quando algo tem ou não. E, dá para dizer sem medo de errar: “RED: Aposentados e Perigosos” tem charme; “RED 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos” não. Mas até que diverte.
Dessa vez, Frank Moses, novamente interpretado por Bruce Willis, está vivendo uma tranquila e paranóica vida com Sarah, papel de Mary Louise-Parker. Isso, claro, deixa ela sufocada. Tudo vai mais ou menos bem até que Marvin, personagem de John Malkovich, aparece para informá-los de que, novamente, eles são um alvo prioritário da Interpol e precisam correr por suas vidas. Enfim, o mesmo mote do primeiro filme, mas em escala global.
Como temática, o tédio de Sarah frente a mesmisse do dia a dia é perfeito. Afinal, ela está casada com um dos maiores espiões de todos os tempos e a espectativa é de uma vida de aventuras, como as que ela lia em romances ruins de banca de revista no começo do primeiro filme. Mas a realidade dela é um namorado superprotetor que não consegue ir ao mercado sem um plano de fuga.
Os problemas dela ainda aumentam quando ela se depara com o passado de Moses. Mais especificamente, Katja, a espiã russa que “é a kryptonita de Frank Moses”, nas palavras de Marvin. E não há romantismo parisiense que segure o ciúmes dela, o que rende algumas das boas piadas – as outras, quase todas, são por conta de Malkovich que, diante de qualquer outro ator, consegue uma interação impressionante. E hilária.
O que sobra disso são cenas de ação que se alternam entre o divertido e o genérico, que são salvas mais por conta de Willis, que hoje em dia nem precisa mais estar acordado para convencer nessas situações. E, no fim, é quem parece mais se divertir durante as filmagens, fazendo valer cada segundo em cena.
O pecado aqui é o de ritmo. Dean Parisot, cuja maior e única realização no cinema foi “As Loucuras de Dick & Jane”, parece ter ficado muito empolgado com o fato de ter atores como Willis, Malkovich, Anthony Hopkins e Helen Mirren nas mãos. Ele simplesmente não sabe quando terminar uma cena ou take, deixando-os intermináveis, com os atores olhando para o vazio fazendo caras e bocas.
No primeiro, muito mais ágil e bonito plasticamente, isso foi até usado, vez ou outra, aproveitando o carisma dos atores, dando aquele ar de farsa para toda a trama, ajudando, e muito, no charme da coisa toda. Neste, a sensação é de falta de pulso firme por parte de Parisot mesmo. A sorte é que esse é o único pecado, ainda que grave.
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Publicado originalmente no Portal POP.