Parte da esperteza de “Wolverine – Imortal” envolve algo DC/Warner já vem fazendo com seus (bons) filmes de super-heróis: basear a trama em alguma história do personagem que se consagrou ao longo do tempo entre os leitores dos quadrinhos. Aqui o ponto de partida é “Eu, Wolverine”, de Chris Claremont e Frank Miller, que leva Logan para o Japão, ainda hoje uma das mais importantes fases do mutante canadense.
Ao mesmo tempo, esta não é a primeira vez que vemos Wolverine no cinema. E é aí que entra a segunda parte da esperteza: “Wolverine – Imortal” usa como ponto de partida todos os traumas pelos quais ele passou nas outras aventuras, especialmente em relação ao clímax de “X-Men 3 – O Confronto Final”. Não é uma questão de reinventá-lo, mas de entender como ele estaria depois do que aconteceu com ele.
Todos esses machucados psicológicos – que não se regeneram como seu corpo – o levam a um auto-exílio, que não dura muito tempo já que ele logo parte para o Japão, meio contra a vontade. Uma vez lá sua paz não dura muito e ele acaba envolvido em uma trama que envolve a máfia japonesa, a Yakusa, ninjas e tomadas de poder de empresas de tecnologia. Tudo isso é parte de um esquema que envolve, entre outras coisas, deixar Wolverine sem seu fator e cura e, logo, vulnerável como nunca antes.
A perda dos poderes atende a uma `tradição` que vem de “Superman II”. Mas mais do que um rito de passagem na trajetória do herói, ela é importante como recurso de roteiro para que Wolverine não fique poderoso demais. Afinal, se ele não pode ser morto, não há muito com o que se preocupar. Com isso, ele se torna tão vulnerável fisicamente quanto já estava psicologicamente. E quando resolve um, resolve o outro.
“Wolverine – Imortal” abraça a estrutura formal dos thrilers de ação dos anos oitenta, lembrando muito “Alta Tensão”, clássico com Mel Gibson e Goldie Hawn – e está lá o veterinário que tira as balas do corpo de Wolverine que não me deixa mentir. Mas, diferente de “O Homem de Ferro 3″ que usa isso para fazer graça, aqui a coisa é levada a sério. Logan é um herói relutante, de passado sombrio, que volta a pegar em armas por conta de um chamado maior. No caso, proteger a jovem Mariko Yashida. O clichê só não incomoda por se encaixar como uma luva para essa trama.
A coisa funciona, em grande parte, graças ao carisma de Hugh Jackman, que retorna ao papel central – e lá se vão 13 anos interpretando um personagem que não envelhece. Ator de recursos, ele convence tanto nas cenas dramáticas, incluindo uma série de nuances à fase negra de Wolverine, quanto nas cenas de ação.
Todos esses elementos, aliados à boas cenas de ação e respeito ao público japonês – todo o elenco é nativo e boa parte dos diálogos são falados em japonês -, fazem de “Wolverine – Imortal” um filme que redime o personagem, tão querido pelo público leitor de quadrinhos. Ainda que esteja longe de ser um tipo de clássico contemporâneo.
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Publicado originalmente no Portal POP.