Dwayne Johnson é, de longe, o mais carismático ator de ação de sua geração. Sempre caindo como uma luva em projetos em que eram necessários músculos e um pouco de atuação. Em “O Acordo” ele dá um passo além: sustenta todo o filme com sua atuação, não com seus músculos. E encara de frente gente muito mais escolada nisso, como Barry Pepper, Jon Bernthal, Michael K. Williams e, claro, Susan Sarandon. O mais impressionante nisso tudo é que ele não faz feio.
A primeira coisa que vemos do filme é uma frase nos avisando que ele foi baseado em fatos reais. É a história de como um garoto foi pego com drogas e como seu pai faz de tudo para tirá-lo da cadeia. Isso envolve um acordo com uma promotora, personagem de Suzan, que está interessada em se promover (nos EUA, esses cargos são elegíveis). Se John, intepretado por Johnson, ajudar a pegar um traficante, a pena de seu filho será reduzida. Mas a coisa fica grande demais, beirando a falta de controle, o que pode custar a vida dos envolvidos.
Há um esforço consciente em fazer com que Johnson não seja o herói de ação a que estamos acostumados. Isso começa em seu figurino, sempre com camisas largas, buscando esconder seus músculos (que são justificados porque ele gosta de, vez ou outra, fazer trabalho braçal), e deságua nas poucas cenas de ação. Ele apanha de três traficantes ralé e se esconde ao invés de enfrentar conflitos. Mesmo quando resolve comprar uma arma, é uma escopeta, de alto poder de destruição à curta distancia e sem precisão. Tudo mais condizente com a condição de pai de família preocupado e sem o menor treinamento militar.
Mas todo o esforço de caracterização não daria em nada se Johnson não fosse capaz de interpretar bem. Chegam a ser tocantes as cenas de diálogo dele na cadeia, com o filho, dizendo para ele não chorar enquanto pisca loucamente tentando, ele mesmo, não chorar. Isso acaba mostrando como esse filme, que para todos os fins é um thriller de ação, o que envolve todas as características e clichês do gênero, consegue ainda abraçar algumas sutilezas. Nessa mesma cena, sem que haja um diálogo explicativo, com um movimento de câmera, é possível ver quem está abusando do filho.
O apreço pelo realismo nas imagens é muito bem-vindo. Aumenta muito a tensão na trama, que é impulsionada pelos enquadramentos com a câmera em movimento e pela trilha. Há, porém, na construção do roteiro, um deslize bobo, no momento imediatamente anterior à sequência de ação final, que envolve o fato de Daniel, papel de Bernthal, aceitar meio que fácil demais participar do plano de John. Uma besteira, mas que sempre nos distrai. O que é ruim, já que toda a estratégia narrativa de um filme hollywoodiano envolve nos manter completamente imersos na trama.
Ainda assim, é com certo alívio que vemos o herói de muletas depois de passar por todas aquelas cenas de ação malucas e não correndo como se nada tivesse acontecido.
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Publicado originalmente no Portal POP.