Tim Burton não voltou para um terceiro filme. E, sem ele, mais ninguém de sua equipe. Então a Warner teve que começar do começo, chamando um diretor escolado: Joel Schumacher. Se você viveu nos anos 90, deve ter visto pelo menos um dos dois batfilmes dirigidos por ele. Então é difícil tratá-lo como uma escolha esperta, especialmente depois da trilogia do Nolan. Mas a verdade é que Schumacher era um diretor extremamente promissor, vindo de grandes sucessos de público e bilheteria, além de serem clássicos modernos, como “Linha Mortal” e “Um Dia de Fúria”. Isso fora o melhor filme de vampiro a figurar nas tardes da televisão aberta: “Os Garotos Perdidos”.
Joel Schumacher foi uma escolha segura para o momento. Diretor relativamente novo, mas já minimamente consolidado depois de alguns bons filmes (exatamente como Christopher Nolan, diga-se). E não se enganem, o primeiro filme, “Batman Eternamente”, mais que triplicou seu orçamento original em lucros para a Warner. O segundo, porém, teve um ganho mais modesto, o que acabou reduzindo a intenção de um terceiro filme, que iria se chamar “Batman Triumphant”. Acabou que isso foi o melhor para todo mundo.
Depois do diretor definido, era preciso, então, achar um novo ator para o Batman. Afinal, Michael Keaton não apenas não voltaria, como já estava ficando meio velho para o papel. A resposta veio com a contratação de Val Kilmer. O ator já vinha se consagrando como galã em filmes como “Top Gun – Ases Indomáveis”, além de ter praticamente encarnado Jim Morrison em “The Doors”. Talento, beleza e alguns músculos, que faltavam a Keaton, fizeram dele o candidato ideal.
Para os vilões, foram chamados Jim Carrey como o Charada e Tommy Lee Jones como Duas Caras. Além disso, a produção resolveu ‘subir um degrau’ e acrescentar Chris O’Donnell como Dick Grace, o primeiro Robin. E já na escolha dos atores/personagens começou uma tendência ruim que só pioraria de “Batman Eternamente” para “Batman e Robin”: a busca de inspiração na série dos anos 60. Mas chegamos lá.
“Batman Eternamente” foi relativamente inofensivo para a reputação do homem-morcego. O dano mesmo foi em “Batman e Robin”, em que o bat-time ganhou uma integrante em Alicia Silverstone como Batgirl. Os vilões eram Uma Thurman como Hera Venenosa e Arnold Schwarzenegger como Senhor Frio. Fora que a mudança de Kilmer para George Clooney, ainda que seja um ator melhor, não contribuiu muito para o filme. Clooney parecia mais preocupado em sorrir corretamente para a câmera do que em prender os bandidos. Para não falar nos famigerados mamilos do traje.
O problema é que temos que falar nos mamilos. A roupa com mamilos de Clooney era o sintoma final de um problema que é central na abordagem de Schumacher. Porque ele não se preocupou em conhecer os personagens dos quadrinhos, seus dramas e conflitos. Mas se contentou com o que conhecia da série clássica dos anos 60, e se ateve a ela. Isso não teria nenhum problema, se a própria série não tivesse um tom cômico exagerado propositalmente. Nos anos 90, depois dos fãs terem lido “O Cavaleiro das Trevas” e “Batman: Ano Um”, ficava bem difícil aceitar liberdades cômicas como os batpatins de gelo e batcartão de crédito.
Por um lado, é até louvável que Schumacher quisesse fazer um Batman para toda a família, abraçando seu lado mais heroico. Por outro, a forma como ele encontrou para chegar nesse resultado acabou pífia. Dos uniformes dos heróis aos vilões com planos tolos, passando pela construção de uma Gotham que parecia uma versão neon da Los Angeles de “Blade Runner”, sem a chuva ácida, tudo era colorido demais, bonito demais.
Por conta disso, Batman ficou restrito às boas animações da Warner, direto para a TV, além de, aos poucos, ir se tornando um dos maiores e mais importantes membros da Liga da Justiça. Só em 2005 é que o Morcegão ganharia nova vida nos cinemas.
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Publicado originalmente no Portal POP.