Os primeiros cinco minutos de Festa no Céu enganam. Os personagens são caricatos e irritantes e as situações são tão previsíveis que a vontade é se levantar ou dormir. É preciso resistir. O filme só começa depois desse preâmbulo que só parece existir para justificar as escolhas estéticas e ganhar alguns minutinhos de tela. O que vem depois é tão bonito que você fica se perguntando se não tinha outra solução para a abertura.
Logo somos apresentados à Xibalba, governador da terra dos esquecidos, e La Muerte, soberana da terra dos mortos. Como o primeiro não gosta do seu trabalho, ele faz uma aposta para trocar de lugar com sua rival. Cada um escolhe um campeão entre dois amigos sobre quem ficará com o coração de uma garota: a bela Maria, filha do prefeito e joia da cidade.
O escolhido por Xibalba é Joaquim, filho do herói que protegeu a vila de um notório bandido. Ele cresce para se tornar um valente soldado, esperança do povo contra os bandidos, carregando tantas medalhas em seu peito que mal sobra espaço para outra coisa. Muerte escolhe o sensível Manolo, que quer ser músico, a despeito da ambição de seu pai de que ele seja um toureiro, como toda a sua família.
Festa no Céu é um mergulho pop dentro da mitologia mexicana. Mais especificadamente, na forma festiva como eles encaram a morte. Segundo o filme, enquanto nos lembramos dos mortos, eles permanecem na alegre e colorida terra de La Muerte. Mas, no momento em que nos esquecemos deles, passam para o depressivo reino de Xibalba – daí sua vontade de trocar de lugar.
O roteiro acerta muito ao retratar os dois como donos de bom caráter e coração – apesar de deixar clara a preferência por um dos dois. Mas acerta mais ainda ao estabelecer Maria como uma personagem interessante, cheia de atributos, e não apenas um mero artifício para fazer a trama andar. O mesmo vale para a própria Morte e Xibalba. Especialmente esse último, que é menos um vilão e mais alguém que quer ganhar a todo custo.
Mas tudo isso fica em segundo plano. O que importa aqui é o espetáculo visual. Começando pelos personagens centrais serem retratados como bonecos de madeira articulados. E não para por aí. As cores do México – centro de todo o Universo, segundo uma personagem – são muito vivas e são mais ressaltadas quando vemos o mundo dos mortos.
Como esse é o primeiro longa do diretor, Jorge R. Gutierrez, fica difícil saber quanto das qualidades são dele ou do produtor principal, Guillermo del Toro, que sempre teve uma preocupação visual muito grande em seus filmes. O estilo de Festa no Céu, inclusive, chega a lembrar um pouco uma bela sequência animada de Hellboy II: O Exército Dourado, dirigido por Del Toro em que os personagens também tinham esse aspecto de fantoches de madeira.
Morrer, neste universo, ainda guarda a tristeza da falta do ente querido, mas fica o consolo da certeza de sua alegria enquanto nos lembrarmos.