Finalmente esta quinta temporada mostra a que veio em um episódio com a cara da série como um todo. Isso quer dizer, claro, mortes. Toda a manipulação política das últimas semanas encontra um pequeno ápice climático marcado por dois momentos específicos: o ataque da Fé Militante em King’s Landing e dos Filhos da Harpia em Meeren.
O primeiro, porém, gera um pouco mais de debate em relação a suas causas e consequências. É Cersei Lannister quem reinstitui a Fé Militante, um grupo para-militar religioso que havia sido desmantelado anos atrás, como o primeiro ato do que parece sua conversão depois de ter sido tocada pela sabedoria do High Sparrow. A primeira ação deles envolve prender de forma bastante truculenta todos os pecadores, incluindo aí as prostitutas, seus clientes e os homossexuais.
Cersei parece estar criando um jogo duplo, cujas consequências, tudo indica, irão se reverter em uma armadilha para si mesma. Só que, dessa vez, ela não terá seus irmãos ou pai para lhe livrar a cara. Note como ela volta a Fé Militante para o que chama de “pecadores protegidos pelo ouro”. Ao mesmo tempo em que suas ações implicam na prisão de Loras Tyrell, um gay notório em King’s Landing, um ataque indireto à Margeary Tyrell, nora de Cersei que disputa influência sobre o rei, também podem acabar lhe prejudicando. Seu filho, o jovem rei Tommen Baratheon, ser chamado de “bastardo” nas ruas é prova disso.
Por enquanto a influência de Cersei no conselho (que é aos poucos desmontado) garante para a Rainha Mãe todo o poder que precisa. Mas tudo pode explodir em sua cara se Tommen, aconselhado por Margeary, se rebelar. O que provavelmente acontecerá quando a Fé Militante estiver no ápice de sua truculência e quando Lord Baelish retornar, como acabou de anunciar para Sansa. Não custa lembrar que ele não apenas é uma das mentes mais manipuladoras de Westeros como também é dono dos prostíbulos. A Rainha Mãe sempre demonstrou mais vontade do que habilidade política em “Game of Thrones” e agora parece estar diante de um bolo grande demais para abocanhar.
Falta à Cersei, neste caso, a sabedoria de Jon Snow nesse mesmo episódio, que recebe uma interessante e aguardada visita de Lady Melissandre. Mas aqui interessa menos a recusa do jovem (primeiro pelo voto dado aos irmãos da Patrulha da Noite e depois pelo amor à Ygritte) do que a frase que ela lhe diz quando está de saída: “você não sabe de nada, Jon Snow”. Sinal de que a feiticeira vermelha já está dentro da cabeça dele de tal forma que nem precisa esconder até que a influência seja consolidada.
As diferentes partes de “Sons of the Harpy” parecem apontar para uma mesma noção: reminiscência. Lord Baelish descreve para Sansa o momento que deflagrou a guerra que tirou os Targaryen do Trono de Ferro, Stannis Baratheon explica para sua filha sobre todo o esforço que envolveu a cura para a doença que lhe deixou com o rosto marcado, Obara, uma das filhas bastardas de Oberyn Martell, fala de seus motivos para enfrentar os Lannister e, no ápice dramático, Sor Barristan Selmy fala para Daenerys sobre o amor de seu irmão, Raeghar, pela música.
São muitos olhares para o passado, talvez implicando que as ações da Fé Militante e dos Filhos da Harpia terão impactos profundos no futuro.
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Publicado originalmente no Portal POP.