Pelo jeito, ficaria feio para a produção gastar mais de US$ 200 milhões e fazer um filme de uma hora e meia. Um pouco mais, talvez. Só isso pode explicar o longo arrastar de “O Cavaleiro Solitário” através de duas horas e meia. E, creia-me, para fins de blockbuster de verão (hemisfério norte), uma hora de gordura é bastante coisa na hora de dar ritmo narrativo.
Todo esse tempo é para contar mais uma história de origem (não que isso seja o problema) do Cavaleiro Solitário, o personagem título, surgido em rádio novelas na década de 30. Desde então estrelou romances pulp, quadrinhos, séries de tv, filmes, desenhos animados até chegar ao século XXI graças à insistência de Johnny Depp, que queria muito não apenas fazer o filme, como trabalhar novamente com Gore Verbinski, dos três primeiros “Piratas do Caribe”.
Armmie Hammer assume o papel de John Reid, o Cavaleiro Solitário. Ele parte em uma missão para trazer um bandido para a cadeia. Todo mundo morre, menos ele, mais ou menos. Tonto, o Nativo Americano vivido por Depp, meio que o traz de volta e, juntos, tentarão corrigir tudo o que está de errado no Texas. A ideia então foi pegar a mitologia do personagem e traduzir em um faroeste épico, com notas de fantasia para temperar. Se, por um lado, não ficou tão ruim como “As Loucas Aventuras de James West”, ainda está longe de ser um “O Bom, O Mau e o Feio” (ou “Três Homens em Conflito”, se preferir). Mas, infelizmente, a coisa pende para o primeiro.
Hammer é até carismático, mas não segura (ainda, talvez) a onda como protagonista de grandes produções. não ajuda em nada ter Johnny Depp como `coadjuvante`, que, mesmo não chegando a roubar cenas, tem elas construídas de forma que ele fique no centro. É quase injusto que o filme se chame “O Caveleiro Solitário”. Está mais para “Tonto e Kemosabe”.
As liberdades tomadas pelo roteiro vão afundando, aos poucos a coisa. A história é contata por um envelhecido Tonto, que não se preocupa em contar detalhes de fatos, por exemplo, “como ele fugiu da cadeia?”, “onde eles arrumaram explosivos?”, “como eles sabiam que os explosivos estavam lá?” e uma infinidade de outras questões que vão se acumulando. Ao fim, a pergunta pertinente é: “como gastaram tanto para recriar o Texas do final do século XIX e economizaram com o roteiro?”
Injusto, porém, dizer que o filme é um desperdício de película. Há cenas divertidas e empolgantes, na medida certa. O vilão criado por William Fichtner é ameaçador e alguns coadjuvantes, como a cafetina interpretada por Helena Bonham Carter, são bem interessantes. Pena que tudo fique diluído pela duração do filme, além da necessidade de colocar Johnny Depp fazendo caretas de três em três minutos.
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Publicado originalmente no Portal POP.