A ideia é reapresentar o personagem, atualizando sua história e estilo. Nesse sentido, o primeiro arco – quase um prólogo – é bem interessante. Acompanhamos Ryan na faculdade que ouve o chamado patriótico e se alista. O acidente, tempo de reabilitação e recrutamento pela CIA, através de Thomas Harper, vivido por Kevin Costner. Ele se torna, então, um agente infiltrado em Wall Street, com a missão de tentar descobrir possíveis movimentações para financiamento de grupos terroristas. É quando ele esbarra nas contas do magnata russo Viktor Cherevin, vivido por Kenneth Branagh, que aqui assume também a função de diretor.
Daí para frente começam algumas forçadas de barra que tendem a irritar o expectador mais exigente – especialmente o que exige o nível de verossimilhança. Tanto na construção de cenas quanto em um sentido mais existencial do filme. A primeira tentativa de assassinato a Ryan, por exemplo, poderia ser feita de tantas formas, infinitamente mais sutis. Mas acaba sendo executada da única maneira em que ele teria uma chance de escapar – além de demonstrar que ele tem lá suas habilidades (em uma bela câmera subjetiva que mostra ele esquadrinhando o ambiente à procura de uma solução) e, depois, fragilidades.
Isso porque é importante definir Ryan como uma cara comum, do ponto de vista emocional, mas como um gênio estratégico. Essas características são reafirmadas o tempo todo, ao longo do filme. É como se Branagh fizesse um esforço consciente para afastar seu personagem de todos os outros espiões do cinema. O que funciona bem.
O mesmo dá para dizer de Cherevin, que encarna todo o estereótipo possível dos vilões. Em sua primeira aparição já ficam claras suas fraquezas e sua personalidade forte. Até aí, nenhum problema. O duro de engolir está em sua estratégia. Ele passa o tempo todo falando da dor do povo russo, mas sendo ele mesmo um milionário, não contribui, através de concentração de riquezas, muito mais para esse mesmo sofrimento? Não faz mais sentido atuar positivamente em seu próprio país ao invés de tentar destruir os EUA?
“Operação Sombra – Jack Ryan” tem o coração no lugar certo, mas afastou o cérebro. O resultado é bem distante do retorno que o personagem merecia.
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Publicado originalmente no Portal POP.