Como nenhum sucesso passa impune por Hollywood, a declaração de amor de Carlos Saldanha à sua cidade natal, “Rio”, ganhou uma continuação. E se ela não se passa no Rio de Janeiro, o jeito é se apoiar no fato de que a Amazônia, que serve de cenário para a nova aventura, tem rios o suficiente para justificar o título. Mesmo com a mudança de ambiente, o filme repete parte da temática do original, mas disfarça bem o suficiente para parecer novidade. O que já é melhor do que a maioria das continuações que vemos por aí.
Blu, a ararinha azul agorafóbica do primeiro filme, agora tem uma família com Jade. Três filhotinhos cheios de personalidade. Quando eles descobrem que Túlio e Linda, os pesquisadores humanos que lhes dão abrigo, estão na Amazônia e que talvez tenham descoberto um santuário com várias outras araras, decidem ir para lá também – o que gera uma sequência absolutamente inspirada, passando por alguns dos mais importantes pontos turísticos do Brasil.
Como apenas as belezas naturais tupiniquins não sustentariam um filme inteiro, Blu enfrenta uma série de conflitos básicos, que, muito espertamente, se resolvem mais ou menos juntos – prova de que o roteiro é redondo e bem amarrado. Isso porque eles encontram o tal santuário, mesmo com Nigel, o vilão do primeiro filme, em seu encalço, agora assessorado por uma rã venenosa e por tamanduá – ambos hilários. Outro problema é que lá está o pai de Jade, Eduardo, que não aprova os modos `humanos` de seu marido, que, ao mesmo tempo, enfrenta a competição de Roberto, amigo de infância dela, que não se cansa de, literalmente, arrastar a asa. Se tudo isso não fosse suficiente, ainda há a derrubada predatória de árvores sendo feita por uma madeireira que, para todos os fins, deve ser ilegal.
Tudo isso para fazer com que Blu repita todo o seu arco de inadequação do primeiro filme, mas, como já disse ali em cima, sem parecer que ele está fazendo tudo igual. O seu problema de não conseguir voar é substituído pela sua aculturação – e é bem engraçado como seu sogro fica horrorizado quando descobre que ele é/foi um animal de estimação. É claro que, no final, é um desacreditado Blu quem vai salvar o dia. É uma animação, afinal.
Tudo isso vem embalado em um espetáculo visual que é tão ou mais impressionante do que o primeiro filme. Tanto na hora de coreografar os números musicais – em que o sambas-rock-eletrônicos para inglês ver perdem um pouco de espaço para algo um pouco mais world music -, quanto na hora dos detalhes. Não há um centímetro de cada frame que não pareça ter sido detalhado à exaustão. Desde a madeira com tinta descascada dos barcos até o padrão de cores das flores e folhas da amazônia.
O resultado final é um filme de auto-ajuda que esbarra em algumas ideias de conservação da natureza. O que é interessante para as crianças. E, como é uma animação de computação gráfica contemporânea, há muito espaço para uma série de piadas que entretêm os pais no meio do caminho. Todos ganham.
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Originalmente publicado no Portal POP.