Não é exagero dizer que se você gostou do primeiro “Sobrenatural”, deve gostar também do “Capítulo 2″. Todos os elementos estão lá. As atuações corretas, a maquiagem de circo de horrores, a trilha sonora de violino e piano que são mais irritantes que assustadoras, a necessidade dos personagens de resolver boa parte da ação na parte da noite e os belos enquadramentos que usam planos sem cortes para ajudar na criação da atmosfera de tensão.
O segundo filme começa do ponto exato de onde o primeiro parou. Mas o que é um problema por princípio, já que há a necessidade de se partir de um final que foi deixado absolutamente em aberto – ainda que de forma meio abrupta e preguiçosa. O ponto é que a família Lambert segue assombrada, mas agora conheceremos um pouco mais de seu passado, bem como o da terrível e caricata velhinha que já aparecia no primeiro – pelo jeito, o demônio de cara de fogo e cascos de bode no lugar dos pés será guardado para o terceiro, já anunciado.
E aí entra uma brincadeira ainda inédita ao gênero que já foi tão surrado – até mesmo o diretor fez melhor com “Invocação do Mal”. A coisa é até mesmo genial, nesse sentido superficial da palavra em tempos de internet. A ideia foi de fazer com que o tempo passasse de forma não-linear no `mundo dos mortos`. Isso gera uma série de cenas interessantes. Inclusive resignificando algumas das cenas do primeiro filme.
E isso melhora bastante a coisa no sentido existêncial do gênero. Porque, se você parar para pensar, é meio bobo um espírito maligno que queira assustar pessoas, batendo portas, apagando luzes e deixando marcas. Em tese, ele iria para o ataque final e pronto. Em “Sobrenatural”, boa parte dessas `manifestações` ganha uma justificativa perfeitamente plausível, dentro da narrativa criada para a saga.
Mas isso, claro, não chega a sustentar toda a exibição. Pelo contrário, de certa forma. Já que se esperaria o mesmo cuidado com os demais elementos da trama. Um exemplo é a construção do vilão, mistura de Norman Bates com Jack Torrance. Isso não teria nenhum problema se a apropriação se assumisse como homenagem. Como não é o caso, sobra a comparação com “Psicose” e “O Iluminado”, dois dos melhores trabalhos de dois dos melhores cineastas de todos os tempos: Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick. O patamar é, simplesmente, alto demais para ser alcançado.
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Publicado originalmente no Portal POP.