Ainda que se disfarce de filme de mágica, “Truque de Mestre” é, enquanto gênero, na verdade, um filme de roubo. No melhor estilo “11 Homens e um Segredo”. Charmoso, rápido, divertido e cheio de pequenas e grandes reviravoltas, que na verdade não importam muito, mas deixam a coisa toda ainda mais empolgante. Dito isso, o `truque` para curtir o filme talvez seja vê-lo apenas uma vez. E ainda, testemunhando contra o sentido deste próprio texto, não ler muito sobre antes de assistir – mas vale a pena voltar aqui depois, viu?
Isso porque metade da diversão do filme se encontra na antecipação. Em tentar descobrir o que vai acontecer e ver se você está certo ou não. Cena a cena. Tanto por pensar consigo mesmo “eu sabia!” quanto por se surpreender com a surpresa. O problema é que a ânsia por tentar nos surpreender acarreta em uma série de pequenos buracos no roteiro que podem se tornar incômodos. O que vai acontecendo à medida que você assiste pela segunda ou terceira vez, porque aí já não precisa mais ficar tão atento à trama.
Por um motivo misterioso, quatro mágicos de rua, com diferentes habilidades – Jesse Einsenberg, Isla Fisher, Woody Harrelson e Dave Franco – são selecionados e escolhidos para integrar um grupo de mágicos que formará um grande show. Um ano depois eles reaparecem com um espetáculo, bancado por um milionário, papel de Michael Caine, que envolve um roubo à banco. Isso os coloca na mira de dois agentes, Mark Ruffallo e Mélanie Laurrent, e de um desmascarador de mágicos, no melhor estilo Mister M, interpretado por Morgan Freeman.
Isso tudo, claro, é apenas a ponta do iceberg, já que a brincadeira envolve, como disse antes, reviravoltas e mais reviravoltas. Mas não se preocupe porque, no fundo, é apenas um blockbuster, então não dá muito para se perder. Caso comece a ficar confuso, o Morgan Freeman aparece e explica tudo, com sua voz de documentário da Discovery.
Já que a ideia é usar a fórmula de “11 Homens e um Segredo”, que não nada além de uma roupagem pop-videoclipe para o esquemão de filme-de-roubo, não dá para se fiar apenas em uma edição alucinada, ainda que minimamente elegante, e no roteiro. Os personagens, antes de serem críveis ou tridimensionais, precisam ser absolutamente charmosos. E aí entra o elenco, mais do que afiado.
Ainda que estejam calcados em estereótipos – o líder, a garota, o novato e assim por diante – o elenco defende bem seus personagens. A maioria é bem escolada, mas fica o destaque para Isla e Franco, relativamente novatos que encaram gente do primeiro time de frente sem se deixar apagar. Mas aí entra a coisa da segunda vez que você assiste.
Porque, depois de passada a euforia inicial, depois que você consegue deixar todo o charme do elenco e da edição passarem, fica meio claro que as relações entre os personagens são forçadas demais. As tentativas de deixá-los mais críveis são patéticas, como colocar Isla e Eisenberg em uma relação anterior ao filme, ou aproximar Ruffallo de Mélanie. Fica todo em falas absolutamente superficiais e que acrescentam muito pouco a um filme que não precisa almejar nada além de ser divertido.
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Publicado originalmente no Portal POP.