A diretora Chris D`Amato comenta, em entrevista ao POP, o processo de criação de “S.O.S Mulheres ao Mar”

Chris D'Amato

Quando pego o telefone para fazer a entrevista com a diretora Chris D`Amato, sou avisado gentilmente pela assessora que terei dez minutos para falar com ela. “Difícil sou eu falar em dez minutos. Mulher fala em dez minutos?” Me respondeu, antes mesmo de eu ter tempo de ensaiar um “olá”. A afirmação, se talvez não valha para todas as mulheres do mundo, seguramente vale para ela mesma. Já na primeira pergunta, por exemplo, ela me brinca com a descrição detalhada de todo o processo de desenvolvimento de seu mais novo filme, “S.O.S. Mulheres ao Mar”.

“Eu estava andando, saindo de uma gravação, de `As Brasileiras`, eu acho que foi o último episódio, aí eu falei, `ai, queria tanto fazer um longa.` Aí de repente eu vi um outdoor de um cruzeiro. Aí eu vi uma família feliz, sabe? O pai, a mãe o garotinho atrás, e eu falei, `nossa, eu podia fazer um assim, né?` E aí eu me reuni com um pessoal amigo, que fizeram o argumento, e em duas ou três reuniões e eu falei, `eu tenho a ideia de fazer um cruzeiro de um casal que se separa.` A gente mandou para a Rio Filmes esse argumento – foi o projeto mais rápido da minha vida -, foi aprovado, recebemos um dinheiro para desenvolver o roteiro, apresentamos para Disney, que comprou e aí está o filme em cartaz.”

Na hora de me explicar como aconteceu a entrada de Giovanna Antonelli no longa, nova palestra: “filmei com a Giovanna um dos episódios de `As Brasileiras` e ficamos nessa de `vamos fazer um longa, vamos fazer um longa.` E quando eu estava saindo das gravações de `Pé na Cova`, encontrei com ela saindo do Projac, e como estava com o roteiro pronto, disse: `pô Giovanna, sabe que eu tô com um roteiro que é a tua cara?` Ela pegou para ler, mas na época ela estava fazendo `Salve Jorge`, e seu personagem cresceu horrores, mas ela dizia, `não, eu quero fazer, me espera, me espera`. Nisso eu me perguntava, `como é que eu vou dizer para o pessoal que o navio, `olha, a gente não vai embarcara aqui, não`.` Mas Giovanna gravou um teste de vídeo, que eu levei no iPad. E aí eles se derreteram e a gente mudou a saída para a Europa.”

Os outros personagens, ela avisa, foram sendo preenchidos mais organicamente, já que todos estavam com a agenda um pouco mais folgada. Todos foram sendo pensados à partir dos personagens, e não o contrário. E como Chris é familiarizada com o trabalhos dos atores tanto por dirigí-los, quanto por vê-los [“eu assisto de tudo, o tempo todo, em qualquer canal”], ela se valeu do seu arquivo mental. Com o elenco fechado e o cronograma ajustado, a produção começou e o filme finalmente chega aos cinemas brasileiros.

Há uma coincidência bastante curiosa em relação a “S.O.S. Mulheres ao Mar” em relação a “Meu Passado Me Condena”. Ambos são comédias românticas, dirigidos por mulheres, que se passam em um navio que segue rumo a Europa. “Eu soube do dela, mas já tenho o meu a muito tempo. Na época eu até me preocupei, pensei `vai acabar que o `Meu Passado Me Condena` vai rodar primeiro que o meu, porque tenho que esperar a Gioavanna.` Mas quer saber? Não me incomoda em nada. Por exemplo, têm vários filmes no sertão, mas ninguém compara. E favela? Eu não estou contando a história do navio, nem ela, a gente está contando uma história de personagens que, coincidentemente se passam em um navio. Mas eu fiquei feliz que o dela deu certo. Gostei muito de ter visto o dela. Me diverti muito. A gente não pode ter concorrência em filme nacional. Torci muito para o filme dela, assim como torço para qualquer filme nacional.”

Aproveitei o gancho de serem duas diretoras, mulheres, e perguntei se ela tinha encontrado alguma dificuldade na carreira. “Sabe quantos longas eu fiz? 35. Se eu achasse que ia ser difícil… Fiz muita assistência de direção. Então eu vim com tempo. Não surgi do nada.” Foi uma das poucas respostas curtas e diretas que recebi.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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