“A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2″ encerra a série sem grandes emoções

“A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2″ encerra a série sem grandes emoções

Se o último filme termina com um close nos olhos de Bella Swan, novamente interpretada por Kristen Stewart, “A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2” começa com a câmera subjetiva mostrando o ponto de vista da mais nova vampira. Seus novos sentidos, hipersensíveis, depois de perscrutar todo o ambiente, acabam chegando a Edward, papel de Robert Pattinson, que é uma forma de nos lembrar que o amor dos dois é a coisa mais importante nesse filme.

Depois de dar uma surra em Jacob, papel de Taylor Lautner (como assim ele se atreve a se apaixonar por sua filha recém-nascida e ainda por cima dar um apelido muito melhor do que o nome dela, o pavoroso Renesmee?), Bella começa a se acostumar com sua vida nova. Incluindo aí uma cena de sexo em que você quase tem a impressão que eles sentiram prazer. Mas tudo pode desmoronar quando a existência da pequena Renesmee (que aparece estranhíssima, recriada em computação gráfica quando bebê) chega ao conhecimento dos Volturi, a aristocrática raça responsável por impor um milenar código de conduta ao mundo dos vampiros.

Isso porque Renesmee é confundida com o que eles chamam de Criança Imortal, que é uma criança transformada em vampiro. Como elas não têm maturidade intelectual, acabavam devastando cidades inteiras se sentissem sede, comprometendo o segredo dos vampiros. Por isso, transformar uma criança acabou se tornando um pecado mortal. Para se preparar para a chegada dos Volturi, os Cullen acabam reunindo vampiros de todo o mundo para, em um primeiro momento, testemunhar a favor de Renesmee (que ela envelheceria e, logo, amadureceria) e, depois, lutar contra os Volturi. Incluindo aí duas vampiras índias brasileiras que vão arrancar algumas gargalhadas nas sessões do filme Brasil afora.

O filme é claramente dividido nesses três momentos: o aprendizado de Bella; a reunião de vampiros; e o confronto com os Volturi. Do ponto de vista cinematográfico, os dois últimos acabam se salvando do completamente vexaminoso, alternando apenas entre “OK” e “podia ser pior”. A impressão geral é que, nessas cenas, o diretor Bill Condon lembrou dos homens que eventualmente teriam que acompanhar as filhas e namoradas ao cinema e os presenteou com uma ou outra sequência de ação mais ou menos elaborada, o que acaba ajudando no ritmo geral.

Não que a ação seja boa o suficiente para redimir as sequências iniciais, com Bella correndo pela floresta e caçando. Fica difícil saber onde foi gasto o orçamento do filme (que não deve ter ido para renegociação de contrato dos atores, já que todos tinham que repetir seus papéis sob pena de multa). Para se ter uma ideia, os efeitos parecem os do primeiro “Superman”. O que não teria qualquer problema, se não fosse uma produção de 1978. O que é até engraçado, porque no treinamento para o combate e na batalha em si os efeitos dão uma melhorada significativa (ou seria o nosso olhar que estaria acostumado com a tosqueira?).

O resto do filme é pura enrolação, e mesmo a fã mais enlouquecida pode concordar, se parar para pensar um pouco. Um exemplo é o desaparecimento de Alice, papel de Ashley Greene, logo depois de ela mesma ter uma premonição anunciando a chegada dos Volturi, para voltar em um momento oportuno e (quase) inesperado. É um movimento que não fez a menor diferença para o desenvolvimento da trama, além de fazer com que Bella gastasse alguns bons minutos de cena tentando decifrar a mensagem de Alice. Ou toda a apreensão de Bella em relação a ter 18 vampiros em Forks, nem todos tão vegetarianos quanto os Cullen, o que nunca chega a dar em nada.

O tom geral deste filme acaba refletindo o espírito de toda a cinessérie. Não há, a rigor, nenhum evento marcante e mesmo o confronto acaba sem grandes impactos na vida de todos. Ao final da resolução, todos os vampiros aliados do clã Cullen começam a se beijar, qual final de novela brasileira. E essa falta de culhões em mostrar emoção verdadeira, tanto a emoção do amor jovem e suas consequências, quanto a emoção da tragédia e da perda, é que poderão acabar por jogar “Crepúsculo” no limbo do esquecimento.

Sim, meio mundo vai ver o filme agora e pelos próximos anos, mas sua sobrevida no imaginário pop parece estar muito mais ligado à suas releituras, como “50 Tons de Cinza”, que a seu próprio mérito ou impacto cultural.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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