Amor e luto são os temas abordados em “Alabama Monroe”

Alabama Monroe

Não há novidade em “Alabama Monroe”. Um homem, o músico country Didier, e uma mulher, a tatuadora Elise, com visões de mundo completamente diferentes, se apaixonam e formam uma família. Tudo meio aos trancos e barrancos, como o que parece ser a vida real. A pequena Maybelle fica doente, depois de um tempo, e todo o amor que eles tinham, toda a felicidade experimentada por aqueles anos, parece querer ceder à essa pressão.

Não há novidade. Filmes como “Reencontrando a Felicidade” e “O Quarto do Filho” partiram de princípios similares. Não há novidade, mas há uma delicadeza ímpar na abordagem do diretor belga Felix Van Groeningen. Sua câmera é íntima e intimista, ao ponto de nos fazer sentir parte daquela família, tão estranha e, ao mesmo tempo, tão familiar – na falta de uma palavra melhor. Da primeira à última cena.

Também não há novidade na estrutura narrativa, entrecortada. Evocando os roteiros de Guillermo Ariaga e Quentin Tarantino. A não linearidade faz a gente ir caminhando pela vida da família. Acompanhamos a adorável Maybelle, vivida por Nell Cattrysse – uma das mais expressivas crianças do cinema recente -, e a relação de seus pais, Johan Heldenbergh e Veerle Baetens. Eles são tão distantes dos estereótipos de beleza americanos que, por mais exóticos que sejam, com sua barba engruvinhada, dentes tortos e amarelados e tatuagens que cobrem tatuagens como se reescrevessem a memória, se tornam absolutamente reais.

Assim, é como se fôssemos conduzidos através de uma espiral para dentro da vida deles. Começando da felicidade que transborda na extremidade e, aos poucos, vamos mergulhando no amargor. Ainda que a lição final seja que, lá no fundo, quando tudo parece sombrio e terrível, há espaço para o amor verdadeiro. Ainda que ele não consiga perceber que cada pessoa fica triste à sua maneira – questão fundamental da segunda metade do drama.

O título nacional não é despropositado, e até soa simpático pela sonoridade – além de se relacionar diretamente com essa fagulha de amor verdadeiro que há no centro de todo o caos do desespero. Mas o título original, “The Broken Circle Breakdown” – que dá algo como “O Colapso do Círculo Quebrado”, em uma tradução bastante livre -, evoca melhor essa ideia da vida familiar, que se fecha em um ciclo. Se relaciona, também, com a música que abre o filme, a bela balada bluegrass “Will The Circle Be Unbroken”, que trata exatamente dessa temática.

O que também se liga diretamente com a trilha do filme, das mais belas desde “Once – Apenas uma Vez”. Toda calcada em baladas de country e bluegrass, por conta da ocupação de Didier – e dá própria Elise, que se junta à banda/família. É parte do discurso do filme, que vai se relacionando, delicadamente, com a história recente dos EUA, país que Didier tanto admira. Vemos a queda das Torres Gêmeas se realcionar diretamente com o discurso conservador de George W. Bush, que recai nas convicções políticas do casal. Daí o colapso fatal.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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