Batsemana especial, parte 2 – a era Tim Burton

Batsemana especial, parte 2 – a era Tim Burton

Eram os últimos anos da década de 80 e tudo parecia convergir para um filme do Batman. Os quadrinhos já haviam reestabelecido o herói para públicos adultos (além da própria mídia já estar sendo melhor aceita pelos mais velhos, que é quem tinha dinheiro para consumir), e já haviam sido produzidos quatro filmes do Superman, estrelados por Christopher Reeves, todos com relativo sucesso de bilheteria.

Foi aí que se deu a contratação de Tim Burton, ainda novato que tinha feito apenas um longa, “As Aventuras de Pee-wee”, mas cujos curtas, todos autorais e com um visual mesclando o expressionismo alemão com o gótico, impressionaram muita gente em Hollywood. Burton chama, então, Michael Keaton para viver o morcego e Jack Nicholson para o papel de Coringa. O diretor também traz da produção de “Pee-wee” Danny Elfman, que acabou compondo uma das mais icônicas trilhas sonoras de todos os tempos. Até hoje é difícil ouvir e não relacionar com o Batman.

O primeiro filme, chamado apenas “Batman”, passa rápido pela história de origem, tomando uma interessante liberdade: é Jack Napier quem assassina os pais de Bruce Wayne, gerando sua vontade de vingança contra a criminalidade de Gotham. E é um uma das primeiras missões como Batman que Jack Napier acaba caindo em um tanque de produtos químicos, ganhando seu sorriso eterno, a pele branca e os cabelos verdes. Os destinos entrelaçados dos dois acabam dando a tônica para o filme. E Kim Basinger fica como par romântico e alívio para os olhos.

O segundo filme, “Batman – O Retorno”, traz Keaton de volta e inaugura a obrigatoriedade de que o segundo filme de qualquer herói terá dois vilões ao mesmo tempo. Ele enfrenta Danny DeVito como o deformado Pinguim e Michelle Pfeiffer como a sedutora Mulher-Gato. E, que fique claro: por mais que Julie Newmar seja um ícone eterno, Michelle em uma roupa de couro no início dos anos 90 não é para qualquer coração.

Burton foi esperto e já colocou Keaton na roupa de borracha que lembrava uma armadura protetora, além de simular alguns músculos que o ator definitivamente não possuía. O problema é que a roupa, emborrachada e negra, com uma capa que tinha um efeito teatral bem interessante, limitava muito a movimentação. Mesmo a dos dublês. Ficava claro que o Batman não conseguia mover a cabeça para os lados. Nem para frente, na verdade, o que tornava a coreografia das lutas bem estranha. Mas como o padrão ainda era o Adam West de malha azul, as pessoas saíam agradecendo no final da sessão.

Como eu disse mais acima, Burton, já naquela época, era fascinado com o expressionismo alemão e com o gótico, tanto que isso veio a se tornar sua marca registrada. No caso de “Batman” e “Batman – O Retorno”, o estilo caiu como uma luva. Por algum tempo chegou até a influenciar os quadrinhos do herói. As ambientações noturnas, os jogos de luz e sombra e o tratamento relativamente sério dado ao personagem acabaram resultando no sucesso de crítica e de público, além de ser o começo da bem-sucedida carreira de Burton no cinema.

A escalação dos atores também influenciou muito nisso. Keaton pode não ser forte e ágil, mas é um ator bom o suficiente para dar o peso necessário ao personagem. Especialmente Bruce Wayne, que aparece sempre sério e sisudo. Já seu Batman, bem… esse deve ser o melhor que dá para fazer praticamente imobilizado pela roupa. E, claro, ele não está sozinho: o Coringa é sensacional na encarnação de Nicholson (ainda que não tenha o peso de um Jack Torrance, seu personagem em “O Iluminado”), e Michelle e DeVito formam contrapontos bem interessantes na continuação (contrapontos entre si e com o Batman).

Fazendo um pastiche com a frase do Comissário Gordon em “O Cavaleiro das Trevas”, o Batman de Tim Burton pode não ser o Batman que merecíamos, mas, sem dúvida, é o Batman que precisávamos no momento.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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