“Bel Ami – O Sedutor” e o esforço de Robert Pattison em ser bonito

“Bel Ami – O Sedutor” e o esforço de Robert Pattison em ser bonito

O IMDb (Internet Movie Database, basicamente um catálogo gigante e em constante atualização de filmes) lista nada menos do que 11 produções baseadas em “Bel Ami”, o romance escrito por Guy de Maupassant em 1885. O duro comentário social, além do poder da sedução como arma política, continuaram (e continuam) relevantes ao longo do século 20. Daí vem tanta gente interessada em recontar a história.

Em “Bel Ami – O Sedutor”, a mais recente versão, dirigida pela dupla estreante Declan Donnellan e Nick Ormerod, Robert Pattinson encarna Georges Duroy. Este personagem central é pobre, de família camponesa e está tentando ganhar a vida e encontrar amor em Paris. Quando reconhece um antigo colega do exército, e é apresentado à alta sociedade, ele percebe que, através de seu poder de sedução, pode chegar a se tornar um deles. Da elite. Porque o que ele precisa é de prestígio. E prestígio é o que o faz ganhar o dinheiro.

É aí que entram Clotilde (Christina Ricci), que lhe dá amor, mas não dinheiro ou prestígio; Madeleine (Uma Thurman), que lhe garante dinheiro, mas não amor ou prestígio; e Virginia (Kristin Scott Thomas), que lhe dá prestígio, mas não dinheiro ou amor. E se balanceando entre as três Duroy acaba se descobrindo antes um peão que um jogador. E não há nada pior, na Paris do final do século 19, que um homem com algum poder de sedução com orgulho ferido. Ele nem precisa ser particularmente inteligente para conseguir o que quer. E o que Duroy quer não é pouco.

A trama e o personagem lembram muito o icônico Ripley, de Patricia Highsmith, de “O Talentoso Ripley” (entre outros tantos). Mas Duroy, que talvez tenha sido uma inspiração direta para Patricia, apresenta um certo nível de consciência, ainda que ela vá desaparecendo em favor de sua vaidade ao longo da trajetória. Porque aqui, o que vemos, é a ambição em detrimento da moral. É a gênese do vilão.

Como méritos, ficam as atuações do elenco de apoio, especialmente do trio feminino supracitado, a reconstrução de época e a força do material original, ainda que fique claro que muita coisa foi deixada de fora. Afinal, fica uma sensação duradoura que alguns personagens mudam de opinião rápido demais, comprometendo um pouco a credibilidade.

Além disso, Pattinson ainda parece imaturo demais para segurar um filme nas costas. Não que ele não tenha algum talento ou mesmo potencial. Mas tirá-lo da “Saga Crepúsculo”, zona de conforto onde lhe basta ser bonito, para sustentar um papel com mais camadas de interpretação que suas caras e bocas dão conta, talvez seja demais para o momento. Por outro lado, em algumas semanas estreia “Cosmópolis”, e pode ser que, assim como sua namorada evoluiu sensivelmente de “Branca de Neve e o Caçador” para “Na Estrada”, ele nos surpreenda.

“Bel Ami – O Sedutor” tem lá seus bons momentos, mas não chega a se grande coisa. Típico filme em que se sai da sessão mal se lembrando do que aconteceu. O que não quer dizer que seja um desperdício, compreendam. A coisa é que se a vontade for de ver um thriller de carga sexual, passado na França do século 19, e com a Uma Thurman de lambuja, melhor ficar com “Ligações Perigosas”, de Stephen Frears. Com a vantagem de ter o Keanu Reeves, tão galã e tão careteiro quanto Pattinson, mas com o diferencial de aparecer pouco em cena.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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