Game of Thrones – The Door

Game of Thrones - The Door

Texto com spoilers. Leia por conta e risco.

Chegamos na metade desta sexta temporada. A tensão construída ao longo dos últimos capítulos começa a entrar em ebulição. Ao mesmo tempo fé e política começam a se misturar de forma perigosa, criando uma dinâmica própria cujas reais implicações só deverão ficar claras mais adiante. The Door nos dá um primeiro vislumbre do abismo para onde se dirigem os personagens de Game of Thrones. Guerra e obscurantismo estão no horizonte na forma de governos e religiões, um casamento que se manifesta em diferentes estágios de aproximação por toda Westeros.

Com exceção do encontro entre Sansa Stark e Petyr Baelish (Sophie Turner e Aidan Gillen) – um dos momentos de dramaturgia mais dura, logo no começo do episódio –, da reunião estratégica do proto-conselho de guerra de Jon Snow (Kit Harrington) e da despedida entre Daenerys e Jorah, o ndalo (Emilia Clarke e Iain Glen), todas as cenas irão de alguma forma confrontar religião e política. Vale para a coroação de Euron Greyjoy (Pilou Asbæk), o novo rei das Ilhas de Ferro; para os questionamentos de Arya Stark (Maesie Williams) sobre os desígnios do Deus das Muitas Faces; e, claro, para a dramática fuga de Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright), cujo desenlace possui implicações mais profundas que a morte de Hodor e do Corvo de Três Olhos (Kristian Nairn e Max Von Sydow) e serão abordadas mais adiante. Mas vale principalmente para a negociação para manutenção da paz de Meereen.

O acordo entre ex-escravos e ex-senhores mediado por Tyrion Lannister (Peter Dinklage) precisa ser solidificado. Para isso ele recruta Kinvara (Ania Bukstein), a alta sacerdotisa do Templo Vermelho de Volantis – ela venera o mesmo Deus do Fogo de Melisandre (Carice Van Houten). Sua função é espalhar as notícias das conquistas de Daenerys mundo afora, o que não é problema, já que a religiosa vê na resistência ao fogo e nos dragões sinais claros de divindade. Mas é importante analisarmos o teor deste pedido.

O que Tyrion quer é transformar Daenerys em uma divindade, fazendo com que o temor ao seu nome sustente a ordem nas cidades deixadas para trás em sua trajetória de conquistas. O anão está usando religião como arma política. Não custa lembrar que sua irmã Cersei (Lena Headey) tentou algo semelhante na temporada passada com resultados catastróficos. Inclusive para ela mesma. Tyrion não é Cersei, porém, é já triunfou diversas vezes onde sua irmã fracassou. A desconfiança de Varys (Conleth Hill), cujo conselho é respeitado pelo anão, é provavelmente o que irá mantê-lo atento – Cersei, ao contrário, sempre se achou mais esperta que todos, prescindindo de conselho e, portanto, falhou.

Tyrion quer assumir o controle da narrativa da história, o que talvez seja a mais importante das vitórias – ou ainda a única vitória possível. É a forma garantida de se deixar um legado sustentável em Westeros. As consequências de falhar nesta missão são demonstradas na peça assistida por Arya, que tenta reencenar o drama da primeira temporada. Ned Stark (Sean Bean) é retratado como um bufão que busca o Trono de Ferro quando seu amigo, o Rei Robert Baratheon (Mark Addy), morre. Aquele que talvez seja o personagem mais nobre de toda a trama – quiçá o único –, entra para a história como um pateta cujas ações tiveram pouco impacto.

Impacto histórico é o que nos leva diretamente a Bran e o final trágico de Hodor. O que era uma dúvida, alguns episódios atrás, agora é uma certeza. A consciência de Bran junto a seu mestre, o Corvo de Três Olhos, não estava visitando um eco do passado canalizado pela árvore, mas sim o passado de fato. E o que é ainda mais interessante: é possível interferir de alguma forma, ainda que o jovem Stark ainda não saiba bem como controlar seus poderes. Não se sabe, tampouco, se é possível visitar o passado sem usar o poder da árvore.

Há outras implicações, porém. O fato de sempre termos ouvido Hodor gritar seu nome, sem conseguir se expressar com outras palavras, mostra que, no mínimo, estamos vendo a linha do tempo em que as eventuais alterações de Bran já ocorreram. Isso quer dizer que quaisquer mudanças que ele tente ou não fazer no passado terão pouco efeito, já que elas próprias já são parte da cronologia. O destino dos personagens do drama de Westeros já está traçado. Resta a eles agora apenas olhar para frente.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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