“Guerra Mundial Z” coloca Brad Pitt enfrentando os monstros da moda

Até os fãs mais ardorosos dos zumbis, a essa altura, já devem estar um pouco enjoados de ver desmortos no cinema ou em séries de tv. “Guerra Mundial Z” não faz muito no sentido de apresentar uma nova roupagem ao tema que começa a se desgastar pelo excesso e, ao contrário, parece mais interessado em pegar carona no hype. O que, claro, não faz dele um filme ruim, necessariamente.

Aqui Brad Pitt, além de produtor, é Gerry. Somos apresentados à ele como o perfeito pai de família, daqueles que faz panquecas e largou um trabalho que amava para ter mais tempo para as duas filhas e a esposa. Isso é bem importante de ser mostrado para ficar marcado porque e por quem ele luta. Logo a rotina familiar é interrompida por um ataque zumbi. É aí que Gerry precisa voltar ao velho cargo, investigador em áreas de conflito da ONU, para tentar descobrir como parar a infestação. Sob pena de colocar sua família em risco.

Dá para entender o que faz Pitt querer estar à frente desse projeto, encarnando o herói aposentado que já vimos tantas vezes no cinema. Mas parte da escolha dele parece errada para o papel. Assim como colocar Tom Cruise como pai de família em “Guerra dos Mundos”. Eles são atores que trazem uma carga pesada demais para que consigamos encará-los como “meros pais de família”, o que compromete um pouco o nosso mergulho na história – e sim, é mais complicado aceitar isso do que aceitar que um vírus está transformando humanos em zumbis.

Marc Foster, o diretor, não procura inventar a roda. De “Contágio” tira toda a lógica do vírus que se espalha globalmente, enquanto busca inspiração em “Resident Evil” – o primeiro – para os momentos em que Gerry enfrenta zumbis em locais fechados. E há espaço até para emular “REC” em um momento em que eles tentam escapar de um prédio. Ainda assim, é no meio das multidões, onde além de poder ser pisoteado, cada pessoa correndo desesperada pode ser um zumbi em potencial, é que são feitas as grandes cenas de ação.

É um filme de verão (no hemisfério norte), o que quer dizer que não vemos muitos cadáveres, ou mesmo aquelas maquiagens com carne apodrecida que são típicas da caracterização. E mesmo quando mostra uma amputação, é fora do quadro e com o mínimo de sangue possível. Os zumbis são mais marcados pela sua movimentação errática – como se o vírus tivesse afetado seu sistema nervoso, comprometendo seus movimentos, gerando uma série de espasmos. Nesse sentido, é bem interessante ver os ataques, que fazem os zumbis se parecerem mais com formigas do qua qualquer outra coisa.

É até impressionante que o filme faça sentido, no final das contas. Não é difícil ver que ele foi editado e reeditado, mesmo sem saber de todos os problemas de produção. Um cinéfilo com um olho um pouco mais atento vai ver, por exemplo, que Matthew Fox, conhecido dos fãs de “Lost”, mal aparece, tendo sido creditado apenas como `paraquedista`. Considerando que ele é um ator do segundo escalão, seria uma contratação muito cara e muito importante para um simples extra.

“Guerra Mundial Z” acaba perfeitamente inofensivo. Não se arrisca em grandes metáforas sociais, coisa que o gênero filme-de-zumbi contém em sua gênese desde George A. Romero e seu “A Noite dos Mortos Vivos”, e talvez nem seja essa a sua vocação. Se zumbis já foram temas de filmes de horror, comédias, comédias românticas e mesmo dramas existenciais, parece justo que esse subgênero, mesmo tão desgastado, sirva de roupagem para um blockbuster de meio de ano.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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