“Hotel Transilvânia” não faz concessões para adultos

“Hotel Transilvânia” não faz concessões para adultos

Parte do sucesso das animações, especialmente as de computação gráfica, nos últimos 20 anos, envolve o fato delas buscarem agradar gregos e troianos. Ou seja, ao mesmo tempo em que oferecem um conto moral simples e espetáculo visual para crianças, vêm recheadas de piadas que só os adultos entenderão e apreciarão. Assim, os pais não ficam entediados e as crianças, logo após saírem dos cinemas, garantem seu brinquedo licenciado de seu mais novo personagem favorito.

“Hotel Transilvânia” faz diferente, optando claramente pelas crianças e pré-adolescentes, quase em detrimento dos adultos. O que não é ruim, longe disso, já que esses adultos poderão se divertir igualmente, apenas sabendo que a maioria das piadas não são para eles. E o mérito de fazer uma animação voltada para esse público, e ainda assim bem divertida, só pode ser atribuído ao diretor: Genndy Tartakovsky, também conhecido como a mente por trás de “O Laboratório de Dexter”, “Samurai Jack” e “Star Wars: Clone Wars”.

Na história, acompanhamos o Conde Drácula e sua pequena filha, Mavis. Como uma promessa a sua falecida esposa, Drácula constrói um refúgio para os dois. Tudo, claro, com espaço de sobra para todo um mundo de monstros se hospedar, especialmente na já tradicional festa de aniversário de Mavis. E tudo vai bem, nesse lugar onde os monstros estão livres dos famigerados humanos (que os caçam e matam), até que um jovem viajante, inocente e boboca até na tampa, chamado Jonathan, aparece por lá. Ele não apenas representa uma ameaça humana ao refúgio de Drácula, como cai nas graças de Mavis, complicando bastante as coisas.

O filme então se desenvolve nesses encontros e desencontros que acontecem com Drácula tentando se livrar de Jonathan (e falhando miseravelmente), e toda a comunidade monstro, aos poucos, sendo influenciada pelas novas ideias e novo jeito trazido pelo humano. Tudo envolvido no espetáculo visual trazido por zumbis serventes, bruxas arrumadeiras e pelo cozinheiro corcunda de Notre Dame. Isso fora os hóspedes, cada um, um show próprio. Seja o monstro de Frankenstein viajando aos pedaços, seja o Homem Invisível (que usa óculos), seja o Lobisomem, e sua dezena de filhotes (além da esposa grávida).

E tudo isso ainda vem com, pelo menos, duas lições bem bacanas. A mais óbvia, aos pais: os filhos precisam de espaço e chega um momento em que eles precisam ganhar o mundo, por mais perigoso que isso seja. A menos óbvia, a qualquer um: não julgar pela aparência, ou pelo passado, questão que Tartakovisky trabalha tanto dos monstros para os humanos, quanto o contrário.

A clara opção pelas crianças se reflete aqui no Brasil, com as cópias chegando, em sua maioria, dubladas. Uma pena por conta do elenco de vozes originais, encabeçado por Adam Sandler, Kevin James e Andy Samberg, já nos trailers melhores e mais carismáticos do que em seus filmes. A dublagem brasileira, porém, é correta e não deve causar nenhum estranhamento. Exceto o bizarro sotaque paulista atribuído a Wayne, o Lobisomem, que originalmente é dublado pelo ótimo Steve Buscemi.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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