“Jack Reacher – O Último Tiro” se sustenta no ego de Tom Cruise

Um herói caricato, um vilão ainda mais caricato e uma trama cheia de pequenas reviravoltas. Nada além do necessário para fazer de “Jack Reacher – O Último Tiro” divertido e descompromissado, como um thriller de ação estrelado por Tom Cruise deve ser. E, se há algo a se apontar neste filme, é que ele não chega a ser tão divertido quanto o último “Missão: Impossível”.

Aqui, Cruise assume o papel do personagem-título, um homem que vive de cidade em cidade, sem deixar rastros, mais preocupado com o que ele acha certo do que com lei ou justiça. O homem é um mito: altamente treinado, tanto em combate corpo a corpo quanto em táticas de guerrilha e estratégia militar. Além disso é um investigador brilhante, com memória fotográfica e tudo mais. E ele aparece em lugares que precisam da ajuda dele, em um esquema meio Superman. Um personagem chega a dizer: “você não encontra ele, ele te encontra.”

Suas habilidades são usadas em um caso de múltiplos assassinatos. Um ex-soldado, que já havia sido investigado por Reacher no passado mas que tinha conseguido se safar, é acusado de atirar a esmo. Todas as provas apontam para ele, mas o cenário parecia perfeito demais. É aí que entra Reacher, fazendo perguntas incômodas e dando muitos socos e pontapés em quem atravessa seu caminho, tudo para descobrir que pode ter mais nessa história do que parece. Não sem antes fazer aquela cara de “não diga que não te avisei.”

Se Cruise não tem a descrição do personagem no livro, que envolve dois metros de altura e um jeitão mais rústico, ele conta, ao menos, com dois trunfos a seu favor. O primeiro é Christopher McQuarrie, o diretor, que o filma como estando acima dos demais, fazendo muito esforço para enquadrá-lo de baixo para cima. O segundo é a própria aura que Cruise traz consigo, de um ator que passou os últimos 30 anos interpretando justamente esse tipo de personagem que sabe que é melhor que a maioria das pessoas à sua volta. Se Cruise não tem dois metros (muito menos do que isso, na verdade), seu ego, no sentido menos pejorativo e mais psicológico, compensa perfeitamente.

Restam ainda alguns poucos méritos cinematográficos no trabalho de McQuarrie, como por exemplo na escolha de mostrar a ação do atirador de elite em primeira pessoa, transformando a tela de cinema em um alvo gigantesco. A experiência de imersão é bem impressionante, especialmente por conta do tempo que o diretor permite que essas imagens fiquem na tela.

O tempo, porém, é o começo dos problemas de “Jack Reacher”. Por mais divertido que o filme seja (e, creia-me, é bem divertido ver Cruise encarnando o bonzão), as mais de duas horas deixam-no bastante cansativo. Mas tudo bem, porque, como bom thriller, é no terço final que haverá o confronto com o grupo e vilões. O físico com o personagem de Jay Courtney, em uma luta meio estranha e anticlimática, e intelectual com o chefão de tudo, interpretado pelo diretor alemão Werner Herzog, fazendo um ótimo vilão, ainda que apagado pelo próprio roteiro.

No final das contas, McQuarrie ainda não fez jus ao seu passado. Afinal, ele é o roteirista de “Os Suspeitos”. Mas, considerando que também é o responsável por “O Turista”, até que “Jack Reacher – O Último Tiro” não se sai tão mal.

Publicado originalmente no Portal POP.

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Luiz Gustavo Vilela

Luiz Gustavo Vilela é jornalista formado pela PUC-Minas, especialista em Comunicação e Cultura pela UTFPR, mestre e doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP. Entre 2011 e 2015 foi crítico de cinema no Portal POP.

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